Summary: | A prevalência de isolados bacterianos, da família Enterobacteriaceae, resistentes a cefalosporinas de largo espectro, produtores de β-lactamases de largo espectro (ESBLs) e/ou AmpCs tem vindo a aumentar. Tem sido também reportada a coocorrência de genes que codificam para ESBLs e genes que conferem resistência a outras classes de antibióticos. Esta situação tem como consequências a limitação de opções terapêuticas e o insucesso da terapia, traduzindo-se em taxas de mortalidade e morbilidade mais elevadas. Este trabalho focou-se na caracterização molecular de 46 isolados clínicos resistentes a antibióticos, pertencentes à família Enterobacteriaceae. Os isolados foram previamente obtidos no Hospital Infante D. Pedro, Centro Hospitalar do Baixo Vouga, E.P.E., e foram selecionados para análise com base na suspeita de produção de ESBLs e/ou AmpCs, de acordo com o sistema automático Vitek2®. Os isolados foram caraterizados em termos de diversidade genotípica, presença de genes de resistência e elementos genéticos móveis. Foram observados determinantes genéticos responsáveis pela resistência a β-lactâmicos (blaTEM, blaSHV, blaCTX-M e blaCMY), fluoroquinolonas (qnrA, qnrB e aac(6’)-ib -cr), sulfonamidas (sul1 e sul2) e aminoglicosídeos (aac(6’)-ib ). O gene blaTEM foi o mais prevalente (97,8%), enquanto o gene blaSHV foi o menos prevalente (6,5%) entre os isolados. A variante blaCMY do gene blaAmpC foi a mais frequente em contexto adquirido (n=10 isolados). A variante blaCTX-M-15 foi observada na maioria (94,4%) dos isolados blaCTX-M + e surge associada à sequência de inserção ISEcp1. Foram identificados genes codificantes para o fenótipo de resistência a aminoglicosídeos (aadA1, aadA2, aadA5 e aadB), trimetoprim (dfrA1, dfrA12, dfrA15 e dfrA17), cloranfenicol (catB3) e estreptotricina (sat2) nas regiões variáveis dos integrões de classes 1 e 2, presentes em 34 e 1 isolados, respetivamente. Além dos integrões, foram encontrados outros elementos genéticos móveis como sequências de inserção, nomeadamente, ISEcp1 e plasmídeos conjugativos pertencentes aos grupos IncF, IncK, IncB/O e IncI1. Foram realizados ensaios de conjugação para 8 isolados blaCTX-M-15 + e 7 isolados blaCMY +, originando 2 e 3 transconjugantes, respetivamente. Com este trabalho foi possível concluir que a resistência às cefalosporinas de 3ª geração neste hospital está predominantemente associada a mecanismos de resistência adquirida. Os resultados referentes à tipagem molecular, recorrendo a BOX-, ERIC- e rep-PCR, sugerem que a disseminação de produtores de ESBLs e/ou AmpCs neste hospital será policlonal, dada a variabilidade intra-espécies observada. Não se identificaram clones prevalentes em diferentes serviços ou associados à comunidade. De facto, a disseminação dos determinantes de resistência parece estar relacionada com transferência de elementos genéticos móveis, nomeadamente dos replicões IncB/O, K, I1 e Frep. A presença de integrões nestes isolados resulta com frequência em fenótipos de multirresistência. Serão necessários mais estudos para caracterizar os elementos genéticos móveis com maior detalhe. O estudo aqui apresentado repre senta uma contribuição importante para a definição de estratégias de controlo da disseminação de bactérias resistentes a cefalosporinas de largo espectro no Hospital Infante D. Pedro.
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