Resumo: | O planeta encontra-se inevitável e irremediávelmente exposto a um cocktail de misturas, afectando assim os sistemas aquáticos bem como o Homem. Os ensaios toxicológicos são o apoio fundamental que a ciência dispõe para a previsão estimada da toxicidade de um composto. Cerca de 70% do planeta é constituido por água, água essa que é consequência da acção de poluentes com um número infindável de compostos. Nos seres humanos, 90% dos poluentes ambientais são absorvidos através de alimentos e água contaminada. Os químicos capazes de causar desregulação endócrina pertencem a vários grupos de poluentes que se encontram em íntimo contacto com a biota. Os poluentes designadamente a atrazina, estradiol e benzo[a]pireno são os três compostos mais representativos da classe dos pesticidas, estrogénios e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Estudos indicam prevalência de células cancerígenas, mas também apresentam consequências nefastas a nível do sistema endócrino. Alguns DEs já se encontram regulamentados através de directivas comunitárias e legislação nacional para águas de consumo humano, no entanto, o estradiol não está contemplado, visto existeram lacunas quanto a estudos desenvolvidos com este composto. Através dos ensaios de toxicidade, as organizações da união europeia e agências para a protecção ambiental estabelecem limites de segurança permitidos para cada composto. Com o objectivo principal de avaliar o impacto da atrazina, estradiol e benzo[a]pireno, utilizando o organismo-teste Daphnia magna, realizaram-se testes toxicológicos agudos simples e em misturas. Os ensaios toxicológicos simples encontram-se em concordância com os descritos por autores, para valores de EC50. Nos testes toxicológicos em misturas, observou-se um aumento de toxicidade para os três compostos; particularmente a atrazina em que se observou uma toxicidade superior a 99%. No estradiol observou-se um aumento superior a 90%, e no benzo[a]pireno, um aumento superior a 75%. Nesta avaliação também foi fulcral a comparação com o valor do NOEC, valor imprescindível (entre outros factores) para o cálculo dos limites de segurança permitidos. O EC50 e EC5 obtidos nas misturas, comportaram-se de forma considerávelmente inferior ao NOEC obtido a partir dos ensaios simples. Após o término deste periodo de teste, as D. magna vivas no controlo e concentrações de poluentes utilizados na primeira mistura, foram transferidas para meio ASTM onde foram cultivadas de acordo com as normas regulamentadas durante quatorze dias. Mesmo em meio de cultura adequado á sua optima manutenção, e encontrandose expostas aos químicos apenas por 48 horas, apresentaram sinais de malformação ocular e reprodutiva. Embora os valores paramétricos referentes a águas de consumo humano para a atrazina e benzo[a]pireno apresentem segurança face aos resultados; o estradiol poderá ser um risco para a saúde humana e para os ecossistemas. Este estudo demonstra a necessidade urgente de estabelecer normas que protejam a integridade da biodiversidade a nível não só do químico estradiol mas dos demais DEs, que poderão ser potenciados pela adição de outros compostos com a mesma toxicocinética.
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