Resumo: | Esta dissertação assume o título Arte e Arquivo: A emergência do arquivo nas obras de arte contemporânea (1960-2017) e traduz uma proposta de reflexão e debate sobre o uso do arquivo nas obras de arte portuguesas. A arte contemporânea apresenta-se como um lugar de encontro, de criação de novas possibilidades sobre o valor da arte, e é a partir deste encontro e desencontro que vão sendo disponibilizadas novas formas de perceber e sentir que abrem a arte ao mundo. O presente estudo está dependente de uma fundamentação teórica e histórica que procuraremos desenvolver, de forma a elaborar uma narrativa constante e fundamentada sobre a questão da emergência do arquivo nas obras de arte contemporânea. A abordagem para a noção de arquivo que traçaremos não se centra na sua definição mais prosaica de uma massa amorfa de documentos dispostos em um qualquer lugar poeirento. Pretendemos sugerir um olhar dialético com base na metodologia arqueológica de Michel Foucault, sustentada pela doutrina de Jacques Derrida acerca do mal d’archive, o seu exercício de repetição, compulsão, reformatação e, em alguns casos, destruição do arquivo. Os arquivos retêm em si um mecanismo de hegemonia e de existência. Ambos refletem e constituem relações de poder, que são o efeito da necessidade de informação da sociedade o que revela a importância que lhes é concedida. Nas sociedades contemporâneas, onde a necessidade de arquivo é absoluta e patológica, é imperativo primordial uma reconsideração sobre as relações das sociedades com o arquivo, uma vez que é no âmago desse relacionamento que se posicionam os poderes. Com a crescente heterogeneidade do avanço das novas tecnologias, não são apenas as práticas de manutenção do arquivo que se transformaram, mas também os arquivos como instituições de memória e lembrança. O retorno ao arquivo está inúmeras vezes relacionado com a luta contra a amnésia e a anomia. Uma necessidade imanente de urgência em lembrar e celebrar nas sociedades, onde os códigos sociais têm sido historicamente reprimidos pelo Estado, criando circunstâncias que levam à intensa coletivização da memória e de exercícios de melancolia em massa. A explosão tecnológica que nos atinge, torna hoje possível, que cada um de nós construa o seu próprio mundo, as suas próprias memórias e lembranças. Confiamos a nossa capacidade de lembrar e de criar memórias a um núcleo, que de dia para dia, se torna obsoleto e que em nós próprios se torna difícil manter com exatidão. A questão que ocorre é a de que como, nos dias de hoje, iremos entender o mundo, quando as nossas memórias e lembranças estão em plena dependência. A partir de considerações sobre a quebra da narrativa da modernidade e a sua recuperação relançada pela mão de artistas que trabalham o arquivo, que criam arquivo, problematizam e debatem o seu fundamento, será construída uma genealogia de obras de arte nacionais em sincronia com a anatomia do arquivo.
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