Summary: | A Borreliose de Lyme (BL), causada por espiroquetas do complexo Borrelia burgdorferi sensu lato (B. burgdorferi s.l.) é, atualmente, a doença mais prevalente da Europa cujo o agente é transmitido por vetores Ixodídeos. É uma doença zoonótica, que afeta diversos hospedeiros vertebrados, entre os quais diversos animais domésticos e silváticos, bem como os humanos. As espiroquetas responsáveis pela BL encontram-se, normalmente, associadas a pequenos mamíferos, aves e répteis que, enquanto hospedeiros reservatórios, possuem um papel essencial na transmissão e manutenção destes agentes na natureza. Por outro lado, os hospedeiros como o cão, cavalo e Homem têm um papel menos significativo na manutenção e transmissão do agente, sendo considerados hospedeiros acidentais. A infeção por B. burgdorferi s.l. nos animais é geralmente assintomática, contudo, quando surgem manifestações clínicas, tais como febre e claudicação, estas são comuns a outras doenças, o que dificulta o diagnóstico clínico. Em muitos países, incluindo Portugal, esta doença é subdiagnosticada e pouco reportada, sendo por isso importante recorrer-se a um diagnóstico laboratorial. O objetivo deste estudo foi caracterizar, por técnicas serológicas e moleculares, um total de 240 amostras séricas de duas populações de animais domésticos assintomáticos para a infeção por B. burgdorferi s.l.. Foram analisadas 114 amostras de cães e 126 amostras de cavalos, originárias de várias regiões de Portugal, caracterizadas em estudos anteriores para a presença de outros agentes transmitidos por vetores, particularmente carraças. A presença de anticorpos IgG anti-B. burgdorferi s.l. foi detetada pelas técnicas de Imunofluorescência Indireta (IFA) e Western Blot (WB), utilizadas como teste de rastreio e teste confirmatório, respetivamente. A presença de DNA borreliano foi pesquisada pela técnica de nested-PCR por amplificação da região intergénica 5S-23S e amplificação parcial do gene flaB. Adicionalmente, foram também submetidas a nested-PCR para amplificação parcial de gene ospC, todas as amostras anteriormente positivas para qualquer um dos alvos genómicos testados. A ocorrência de amostras com serologia positiva, ou seja, com título superior ou igual a 1:256, foi observada em 29 amostras de cães e em 31 amostras de cavalos, correspondendo a frequências de, aproximadamente, 25% para cada população. Dos 60 soros com imunofluorescência positiva foi confirmada, pela técnica de WB, uma amostra pertencente a um cavalo da região de Lisboa. A presença de DNA de B. burgdorferi s.l. foi detetada, pelas técnicas moleculares, em 7% das amostras de cães e 5,6% das amostras de cavalos. Várias genoespécies foram identificadas, designadamente B. afzelii, em amostras de cães e cavalos, B. burgdorferi s.s., B. valaisiana e B. lusitaniae, apenas em amostras de cavalos. Os distritos de Beja e Lisboa apresentaram o maior número de amostras positivas. Globalmente em 3,5% dos cães e 3,2% dos cavalos foram detetados anticorpos anti-B. burgdorferi s.l. e identificado DNA de B. burgdorferi s.l.. Este estudo evidenciou a exposição ao vetor e o contacto com B. burgdorferi s.l. a que os animais em estudo estão sujeitos, sugerindo a existência de animais assintomaticamente infetados. Os resultados indicam que existem em circulação várias genoespécies em Portugal. No seu conjunto, os resultados obtidos são importantes pois alertam para o risco de BL nos animais e, uma vez que animais domésticos partilham habitats com os humanos, representam um potencial risco de Saúde Pública.
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