Summary: | Nesta investigação, procura-‐se mapear e avaliar o lugar que o teatro assume no todo da obra vasta e heterogénea de José de Almada Negreiros. Figura singular no cenário cultural português do século XX, Almada experiencia o teatro de diversos modos, ainda que de forma irregular e espaçada no tempo – como autor dramático; desenhador de cenários, figurinos e cartazes; ilustrador de peças e programas; bailarino e coreógrafo; encenador e crítico e, naturalmente, como admirador das artes do espectáculo. Começa-‐se por percorrer a História do Teatro Português e um conjunto de bibliografia crítica (entre trabalhos académicos, ensaios e outros artigos) para analisar e compreender a recepção que a obra teatral de Almada – escritos e espectáculos – foi tendo ao longo das décadas. No que se refere às encenações das suas peças, apenas se contemplam as que acontecem em vida do autor (Antes de Começar e Deseja-‐se Mulher). Depois, apresenta-‐se Almada como «um Homem de Teatro», nas suas múltiplas colaborações artísticas «por detrás da cena», esboçando um levantamento, o mais exaustivo possível, das suas relações com o universo do espectáculo. Em anexo, sistematiza-‐se esta teia de trabalhos numa cronologia ilustrada. Ainda neste segundo capítulo, o encontro com o Almada-‐ensaísta-‐pensador-‐de-‐arte conduz a uma reflexão sobre o seu conceito de teatro, assim como a uma abordagem interpretativa da sua visão acerca das três unidades que fazem funcionar o espectáculo: o autor, o intérprete e o público. Por se ter iniciado esta tese em paralelo com o trabalho de inventariação do espólio de Almada Negreiros e Sarah Affonso, à guarda dos seus herdeiros, a vertente de fixação de novos documentos ganha uma relevância considerável, presente no terceiro capítulo, no qual se propõe uma revisão detalhada e fundamentada do índice dos escritos para e sobre teatro, apresentando-‐se, em anexo, a edição de todos os textos e variantes inéditas. No último capítulo desta investigação, incide-‐se o foco sobre El Uno – considerado por Almada como o seu projecto para teatro mais ambicioso –, por se ter verificado que este conjunto de manuscritos inéditos (até hoje por desbravar), estabelece uma relação estreita com outros textos de Almada, e amplia o entendimento sobre os conceitos de unidade e de colaboração, determinantes no decurso da expressão criativa do artista e presentes em toda a sua obra. A partir do dossier El Uno, mostram-‐se os processos de reescrita e de auto-‐tradução utilizados e, num segundo momento, reflecte-‐se sobre «1+1=1» e sobre o verbo «colaborar», tão vincados na trajectória individual e artística do autor. Esta fórmula do uno, que Almada vê no teatro – o expoente do encontro das artes –, é o seu ex-‐líbris, afinal.
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