Summary: | Em finais do século III Bracara Augusta tornou-se capital da nova província da Gallaecia, criada por Diocleciano, tendo sido dotada de uma poderosa muralha, com torreões, que cercou uma área urbana com cerca de 40 ha, a qual tem vindo a ser identificada em várias escavações realizadas ao longo dos últimos 40 anos (LEMOS et al. 2007). O novo estatuto político da cidade no século IV terá justificado um importante programa de renovação urbana, percetível pela remodelação dos equipamentos de carácter público conhecidos até ao momento e pela generalizada renovação do parque habitacional, com destaque para as domus, o único tipo de casa romana reconhecido até ao momento em Braga (Magalhães, 2010). Ao dinamismo da atividade construtiva parece associar-se uma não menos intensa atividade comercial e artesanal, que assinalam o protagonismo que a cidade assumiu no contexto da Hispânia romana. Enquanto capital provincial, Bracara constituiria no século IV uma cidade atrativa para todos os que procuravam competir pelos altos cargos administrativos do estado romano e a sua permanência na cidade parece bem testemunhada pela sofisticação das domus conhecidas, cujas reformas assinalam um claro aumento de sinais de luxo a atestar o poder e a riqueza dos seus proprietários. As remodelações evidenciadas pelas domus conhecidas traduzem-se no aumento das suas áreas, conseguido pelo avanço dos edifícios sobre os anteriores pórticos, na generalizada construção de banhos privados e na sofisticação dos programas decorativos que afetaram a renovação de pavimentos e estuques e documentam o pontual uso de mármore (Ribeiro, 2010). O documentado investimento realizado pela aristocracia urbana no capital simbólico das suas casas revela que elas constituíam os principais cenários de autorrepresentação dos diferentes tipos de elites que competiriam numa ordem social mais hierarquizada, emergente na sequência das reformas de Diocleciano.
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