Summary: | O nojo é uma emoção básica associada à contaminação e doença. Esta emoção pode distinguir-se de outras emoções de valência negativa (por exemplo, o medo), nomeadamente ao nível fisiológico, sendo, o nojo geralmente associado à desaceleração da atividade cardíaca, enquanto o medo é associado à sua aceleração. As respostas de nojo tendem a ser adaptativas prevenindo que o individuo entre em contacto com objetos ou situações que provoquem situações de perigo ou contaminação. Contudo, estas respostas podem tornar-se disfuncionais, como é o caso da autoaversão. A autoaversão pode ser definida com a internalização das respostas de nojo, ou seja, o individuo, dirige os sentimentos de repulsa para o próprio aspeto, personalidade e comportamento. O objetivo do presente estudo é perceber de que forma os níveis de autoaversão poderão influenciar o desempenho numa tarefa de memória e os correlatos psicofisiológicos da atividade cardíaca. Assim, o presente trabalho consistiu numa tarefa de memória para faces emocionais (alegria, nojo e medo), espera-se que os participantes com elevada autoaversão evidenciem melhor recordação para as faces de nojo do que os participantes com baixos níveis de autoaversão. A amostra foi selecionada com base na Escala Multidimensional de Autoaversão e os participantes foram divididos pelos grupos: elevada, média e baixa autoaversão. A tarefa experimental iniciava com uma tarefa de autofócus, com vista a aumentar a autoconsciência, e de seguida, os participantes tinham de memorizar e posteriormente recordar faces emocionais. Durante a tarefa foi registada a atividade cardíaca. Os resultados comportamentais não revelaram diferenças significativas entre os grupos e as emoções das faces. As faces de alegria forma melhor recordadas do que as de nojo e de medo. Já a análise da atividade cardíaca revelou diferenças significativas entre a alegria e o nojo, e marginalmente significativas entre o medo e o nojo, particularmente no grupo com elevada autoaversão, apenas durante a fase de aprendizagem da tarefa de memória. Foram ainda realizadas análises de heart rate varibility, que revelaram uma ativação significativamente mais elevada na tarefa de autofócus em relação à tarefa de aprendizagem. Em suma, na tarefa comportamental não se comprovou a hipótese inicialmente colocada. Os dados psicofisiológicos, apesar de não serem consistentes ao longo das fases da tarefa de memória, sugerem que possa haver um processamento diferencial e específico da emoção de nojo, por parte de indivíduos com elevados níveis de autoaversão. A análise do heart rate variability permitiu-nos perceber que os efeitos de ativação provocados pela tarefa de autofocus não foram transferidos para a tarefa de memória. Pelo que sabemos, o presente estudo é o primeiro a investigar o processamento da emoção de nojo por parte de indivíduos com elevada autoaversão. No futuro, mais estudos serão necessários para melhor compreender e clarificar a relação entre os níveis de autoaversão e o processamento da emoção de nojo.
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