O herói pícaro na Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto e em Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes

Numa época em que as obras de ficção eram povoadas por personagens fantásticas ou heróicas presentes em romances bizantinos, romances de cavalaria, romances mouriscos e tantos outros, La vida de Lazarillo de Tormes de autor desconhecido, publicado em 1554, marca a diferença e dá origem a um novo gén...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Martinho, Ivone Dias Pereira (author)
Formato: masterThesis
Idioma:por
Publicado em: 2014
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10400.6/1795
País:Portugal
Oai:oai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/1795
Descrição
Resumo:Numa época em que as obras de ficção eram povoadas por personagens fantásticas ou heróicas presentes em romances bizantinos, romances de cavalaria, romances mouriscos e tantos outros, La vida de Lazarillo de Tormes de autor desconhecido, publicado em 1554, marca a diferença e dá origem a um novo género que se começou a chamar Romance Picaresco. Um narrador, que é ao mesmo tempo protagonista da história, conta “sus fortunas y adversidades”. A sua narração é marcada por temas recorrentes que constituem a base do romance picaresco: a fome, a representação de certos tipos sociais (o nobre, o eclesiástico, o fidalgo, o louco, o mendigo, entre outros, ou a transgressão de valores sociais da época. A novela Guzmán de Alfarache3, publicada em 1599, ou seja, quarenta e cinco anos depois da publicação de La vida de Lazarillo de Tormes, definiu e deu as características ao romance picaresco, apresentando uma narração de um anti-herói. Assim, o pícaro apresentou-se como um mendigo de baixa condição social e com vontade de mudar e subir de condição social. Para o conseguir, o herói pícaro não hesita em recorrer à fraude e ao engano para tentar escapar à fome e à pobreza. Retomando o modelo epistolar, o romance picaresco apresenta-se como um romance autobiográfico cuja leitura é ditada pelos acontecimentos. Contado na primeira pessoa, o romance picaresco abre geralmente com a narração das origens, onde o mendigo apresenta a sua genealogia. O seu nascimento e a sua infância situam-se no oposto do cavaleiro ou do herói. Ao mesmo tempo narrador e protagonista, o pícaro revela-nos o seu passado e o seu presente, inspirando-se em escritos, autobiografias de personagens ilustres e de soldados, querendo deixar um testemunho das suas aventuras para a prosperidade. O carácter moralizador parece ser indissociável do género picaresco. Ao contrário dos livros de contos medievais e dos sermões, onde podemos ver exemplos de comportamentos censurados, o romance picaresco aparece como uma sucessão de episódios que conduzem o protagonista a uma mudança e a um enriquecimento pessoal. Neste tipo de romances, podemos ver uma crítica aos costumes da época, mas os elementos sociais ou morais são ultrapassados por elementos estéticos que caracterizam o romance picaresco. O protagonista é um pícaro de baixa condição social, um marginal, um bastardo, um órfão ou um delinquente. Este género tem uma estrutura, pressupostamente autobiográfica, visto que o romance é em primeira pessoa, como se a personagem estivesse a contar as suas próprias aventuras, começando, por vezes, com a sua genealogia e narrando todas as suas peripécias com o objectivo de lutar por uma vida melhor. No entanto, um pícaro será sempre um pícaro e o estatuto social que parece querer alcançar acaba por ser uma miragem. Este herói pícaro, vamos encontrá-lo em dois romances ibéricos: Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto e El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. São ambos referências no mundo das letras e da cultura em Portugal e em Espanha. Um aluno de Português e de Espanhol não pode passar a sua escolaridade sem ter lido e analisado alguns extractos destas obras por serem importantíssimas e fazerem parte do património cultural universal. Neste trabalho, propomo-nos abordar o capítulo CLXXIX de Peregrinação e o Capítulo I de El Quijote de la Mancha. Deparar-nos-emos com uma descrição picaresca do herói em ambos os casos e teremos como objectivo elaborar duas planificações de aulas para as disciplinas de Português e de Espanhol, destinadas aos alunos de 9º Ano de Escolaridade.