| Resumo: | Nas últimas décadas houve mudanças significativas no funcionamento dos campos literário e cultural, em grande parte devido ao surgimento de uma ideologia que incorpora a cultura como um potencial recurso económico. Tendo em conta estas tendências, este trabalho pretende analisar os usos políticos, turísticos e culturais ativados no município português de Óbidos. Esta localidade apresenta uma ligação histórica muito forte com o turismo que, não obstante, experimentou mudanças significativas nos últimos anos, principalmente devido à organização de vários eventos de massas, que evidenciaram a tensão cada vez mais premente entre visitantes e população local. A cultura e a criatividade foram incorporadas como referente económico de desenvolvimento em Óbidos e, a partir de 2013, houve uma aposta específica na literatura com o projeto da Vila literária, revalidado pela UNESCO em 2015 com o reconhecimento desta localidade como Cidade Criativa da Literatura. Dentro deste quadro, os festivais literários associados, o Folio e o Latitudes, situam-se como marcos dinamizados e catalisadores de uma estratégia multidimensional que pretende intervir em diferentes planos da vida local, com foco principal na atividade turística, mas sem deixar de lado o plano educativo, político, económico ou propriamente cultural. Mediante a análise das diferentes fases deste processo e o estudo detalhado das edições do Folio (2015-2017) e do Latitudes (2017 e 2018), este trabalho pretende, por um lado, revelar as características das dinâmicas recentes do campo literário e, por outro, colocar alguns questionamentos sobre os riscos e desafios representados por estes novos modelos de desenvolvimento turístico e sobre o lugar (e papel) da literatura e da cultura neles.
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