Resumo: | O pensamento português no século XX, no âmbito da filosofia da ciência, em especial até 1974, caracterizou-se sobretudo por trabalhos de assimilação e de divulgação das ideias que chegavam de além-fronteiras, principalmente a partir das divulgações, das traduções e das teorizações feitas na língua francesa, mantendo-se a tradição oitocentista da cultura portuguesa, subsidiária da galesa. A inexistência de uma prática científica sistemática e institucionalmente enquadrada e a inexistência de uma política da ciência justificarão este carácter fundamentalmente receptivo da cultura epistemológica portuguesa. Os circunstancialismos políticos e ideológicos (inibidores e censores da livre reflexão) igualmente explicarão a razoável marginalidade em que a epistemologia viveu entre nós, bem como a adesão (ou a rejeição) de diversas personalidades a esta ou àquela corrente – como sucedeu, por exemplo, relativamente ao neopositivismo –, muitas vezes mais como pretensa legitimação filosófica (nem sempre bem informada) de opções político-ideológicas ou de ingénuas ideias de ciência do que como resultado de exercício filosófico efectivo. Serão, sobretudo, homens de formação científica quem mostrará abertura às questões epistemológicas. Com a revolução de 1974, este panorama alterou-se e foi possível a abertura da instituição universitária, do ensino secundário e do universo editorial à filosofia da ciência. Depois dos anos 40, os historiadores da ciência alargarão os seus estudos na época de ouro das descobertas para os séculos XVII a XIX, integrando nos estudos históricos sobre a ciência em Portugal a cultura científica europeia.
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