Summary: | A poética de continuidade e de intensidade subjacente à escrita literária de Herberto Helder, com os poderosos e diversos diálogos intertextuais que continuamente alimenta, leva-nos neste ensaio a desenvolver uma possível dimensão barroca do seu trabalho poético. Mais do que enveredarmos, porém, por uma abordagem temática ou estilística, o nosso interesse centra-se sobretudo na qualidade visual da poesia de Helder, nomeadamente nos pressupostos e nas estratégias que suportam uma certa dramatização do olhar poético, associados a modos e contextos de percepção distintivos. Neste sentido, proporemos algumas aproximações entre, por um lado, a gramática visual herbertiana, e seus possíveis nexos com a linguagem fotográfica e cinematográfica ou ainda com as técnicas pictóricas da natureza-morta seiscentista, e, por outro lado, a imagética religiosa e visionária barroca, todas elas aparentemente convocadas pela escrita intensiva de Helder e pela sua compreensão processual da beleza.
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