Summary: | Introdução: O Síndrome do Túnel Cárpico (STC) é uma neuropatia periférica causada pelo encarceramento do nervo mediano no canal cárpico, localizado no punho. É a neuropatia periférica mais comummente observada na população geral, sendo também aquela que mais frequentemente causa incapacidade. A semiologia e apresentação clínica do Síndrome do Túnel Cárpico são bastante variadas. Diversos estudos demonstram uma sobreposição precária entre os sintomas relatados, os achados do exame físico e os achados dos exames complementares de diagnóstico em doentes com STC. No que diz respeito aos possíveis factores de risco individuais para esta síndrome, os dados existentes são também bastante controversos. Objectivo: Estudar a semiologia do STC em doentes propostos a estudo do membro superior por electromiografia, avaliando a relação entre as manifestações sugestivas de STC e a presença deste diagnóstico. Acrescentam-se ainda alguns objectivos adicionais, nomeadamente, procurar fazer a distinção semiológica, dentro do grupo de doentes enviados para estudo do membro superior, do doente com Síndrome do Túnel Cárpico do doente sem este diagnóstico; inferir acerca do valor diagnóstico da inspecção, testes de força muscular e pesquisa da sensibilidade nos três dedos enervados pelo nervo mediano, caracterizando o doente clinicamente com os testes de Tinel e de Phalen; assim como procurar esclarecer o papel da idade, sexo, índice de massa corporal, actividade motora repetitiva e outros factores de risco profissionais e de diversas patologias, como diabetes, hipotiroidismo e artrite reumatóide, enquanto possíveis factores de risco para o desenvolvimento do STC. Métodos: Foi efectuado um estudo observacional, de coorte, prospectivo, em 77 doentes propostos a estudo electromiográfico de pelo menos um dos membros superiores no Centro Médico de Castelo Branco (CMCB), baseado em inquérito, avaliação neurológica e electromiografia. Foram procuradas as associações estatísticas entre os sintomas descritos, os achados do exame físico e a presença do STC, tendo-se construído um modelo de regressão logística para prever a presença do STC a partir dos sintomas em que a associação se revelou significativa. Foram também comparados os diversos possíveis factores de risco com o desenvolvimento de STC. Resultados: Este estudo identificou a presença de sensação de choque, de falta de força na região distal dos membros superiores, de dormência de aparecimento caracteristicamente nocturno e de melhoria da sensação de dormência com movimentos do tipo “sacudir as mãos”, como os dados da história clínica que melhor se correlacionam com a presença do STC e que melhor distinguem os doentes com e sem este diagnóstico. Foi construído, com base nestes dados, um modelo de regressão logística para prever a presença de STC com sensibilidade de 79,5% e especificidade de 81,1%. Relativamente aos factores de risco foi demonstrada associação entre o desenvolvimento de STC e idade, alterações do controlo glicémico e menopausa. Foi ainda encontrada, num dos membros superiores relação entre a gravidade do STC presente e a existência de alterações do controlo glicémico. Conclusão: Neste grupo de doentes, a história clínica, o exame físico e, sobretudo, os testes de Phalen, Tinel e de compressão mostraram pouca relação com os resultados electromiográficos na avaliação do doente com possível STC. Não obstante, a presença de sensação de choque, de falta de força na região distal dos membros superiores, de dormência de aparecimento caracteristicamente nocturno e de melhoria da sensação de dormência com movimentos do tipo “sacudir as mãos”, foram identificados como os dados mais importantes na distinção entre o doente com STC e o doente sem esse diagnóstico. Foram comprovadas as associações entre o desenvolvimento de STC e idade, alterações do controlo glicémico e, dentro do sexo feminino, menopausa. Foi ainda encontrada, num dos membros superiores, relação entre a gravidade do STC presente e a existência de alterações do controlo glicémico neste grupo de doentes.
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