Saúde oral e qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência intelectual leve

As pessoas portadoras de deficiência intelectual apresentam, frequentemente, maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de problemas relacionados com a sua saúde oral. De facto, inúmeros estudos fazem referência a uma pior higiene oral, à maior prevalência de doença gengival e de cárie dentária não tr...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Couto, Patrícia Sofia Soares (author)
Format: doctoralThesis
Language:por
Published: 2019
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.6/6957
Country:Portugal
Oai:oai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/6957
Description
Summary:As pessoas portadoras de deficiência intelectual apresentam, frequentemente, maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de problemas relacionados com a sua saúde oral. De facto, inúmeros estudos fazem referência a uma pior higiene oral, à maior prevalência de doença gengival e de cárie dentária não tratada nesta população, comparativamente com a população em geral. Embora as doenças orais raramente constituam um risco para a vida do indivíduo, estas influenciam as dimensões funcionais, psicológicas e sociais, que giram em torno de todos os aspetos das rotinas diárias, prejudicando a sua qualidade de vida. Para além disso, e apesar de, nas últimas décadas, uma ampla variedade de ferramentas de avaliação da qualidade de vida ter sido desenvolvida como resultado da crescente preocupação com o impacto da saúde oral na saúde geral, nutrição, bem-estar e qualidade de vida do indivíduo, essas investigações raramente incluem pessoas portadoras de deficiência intelectual. Nesse sentido, o objetivo geral deste estudo consiste em avaliar a saúde oral do indivíduo portador de deficiência intelectual leve e analisar o impacto desta condição na sua qualidade de vida. Para tal, foi realizado um estudo epidemiológico observacional descritivo transversal, numa população de pessoas portadoras de deficiência intelectual leve vinculadas às instituições da Região Centro de Portugal filiadas na HUMANITAS (Federação Portuguesa para a Deficiência Mental), em 2016. Primeiramente, realizou-se o processo de validação de uma versão do questionário OHIP-14, modificada para a população em estudo, da qual resultou o questionário OHIP-14-MID-PT. A versão portuguesa do questionário foi elaborada a partir da versão original inglesa, tendo por base as guidelines de adaptação transcultural internacionalmente definidas, seguindo-se a avaliação das propriedades e do comportamento psicométrico deste novo instrumento de medida. Concomitantemente com a aplicação, sob a forma de entrevista presencial, conduzida pela autora do estudo, de um questionário sociodemográfico e de saúde oral, e da versão final do questionário OHIP-14-MID-PT, a uma amostra de 240 indivíduos de ambos os géneros e com idades compreendidas entre os 18 e 64 anos, foram também realizados exames intraorais baseados em três índices clínicos: COHI (Clinical Oral Health Index), COCNI (Clinical Oral Care Needs Index) e COPI (Clinical Oral Prevention Index), para determinar, respetivamente, problemas de saúde oral, necessidades de tratamento médico-dentário, e necessidades de medidas de atuação preventiva/educativa. O questionário OHIP-14-MID-PT apresentou elevada fiabilidade (ICC=0,999; Cronbach's α=0,922). O coeficiente de correlação inter-item variou entre 0,277 e 0,749, e o coeficiente de correlação item-total entre 0,529 e 0,728. As pontuações do OHIP-14-MID-PT encontravam-se significativamente associadas com a autopercepção da necessidade de tratamento médico-dentário (U=2366,5, p<0,001) e do estado dos dentes e gengivas (r=-0,545, p<0,001), com o número de dentes naturais (χ2=29,74, p<0,001), e com os resultados do COHI (χ2=18,50, p<0,001). Tais resultados suportam a validade convergente e divergente do questionário. Dos 240 indivíduos participantes no estudo, 122 eram do género feminino e 118 do género masculino e a média de idades situou-se nos 35,9 anos. 45% da amostra residia em ambiente urbano e 55% em meio rural. Embora todos os indivíduos em estudo apresentassem alguma forma de vínculo institucional, apenas 13,3% se encontravam institucionalizados. Mediante a realização do exame intraoral, verificou-se que mais de metade dos indivíduos (54,9%) apresentam “um ou mais problemas de impacto importante a severo na saúde” (COHI nível 2); apenas 4,6% “não necessita de tratamento ou observação” (COCNI nível 0) e 85% da amostra em estudo “necessita de pelo menos uma medida de atuação preventiva/educativa” (COPI nível 1). Em 76,9% dos participantes, a saúde oral apresentava impacto na qualidade de vida. As dimensões mais afetadas foram dor física, com 61,9%, seguida do desconforto psicológico e incapacidade psicológica com 45,1% e 45%, respetivamente. Em relação às variáveis sociodemográficas e de saúde oral, verificou-se que a presença de um menor número de dentes e uma autopercepção de maior necessidade de tratamento têm um impacto negativo na qualidade de vida. Por outro lado, a institucionalização e o aumento de pelo menos uma categoria na autopercepção do estado dos dentes e gengivas têm um impacto positivo na qualidade de vida relacionada com a saúde oral. O OHIP-14-MID-PT provou ser um instrumento de medida consistente, válido e fiável, com boas propriedades psicométricas para determinar o impacto da saúde oral na qualidade de vida de adultos portadores de deficiência intelectual leve em Portugal. Dada a elevada prevalência de doença oral e o seu considerável impacto na qualidade de vida encontrado neste estudo, é crucial o estabelecimento de medidas para melhorar a qualidade de vida relacionada com a saúde oral, nestes indivíduos.