Summary: | Diabetes mellitus é uma doença metabólica e crónica grave, caracterizada por altos níveis glicémicos. Com a contínua expansão epidémica, a diabetes não é considerada apenas uma crise de saúde pública, mas uma catástrofe social global, responsável por uma elevada taxa de mortalidade e morbidade mundial. Mais de metade dos pacientes com diabetes há mais de 20 anos desenvolve neuropatia periférica diabética, uma das complicações mais comum e dispendiosa da diabetes. A neuropatia periférica diabética tem sido associada a alterações biomecânicas na marcha, principalmente no membro inferior. De facto, com a alteração do padrão de marcha como uma característica comum desta doença, a análise de marcha de sujeitos diabéticos com neuropatia periférica tem sido objeto de vários estudos. A avaliação da marcha visa aumentar o conhecimento e compreensão da marcha humana, seja como por si só um objetivo, ou de forma a melhorar o diagnóstico e tratamento médico no futuro. Em pacientes diabéticos com neuropatia periférica, a análise tridimensional de movimento permite o estudo e identificação de estratégias de movimento ou musculosqueléticas e pode ser útil para detetar, numa fase inicial, a influência da neuropatia periférica na marcha e no desempenho dos membros inferiores, fornecendo informações decisivas sobre a evolução, características e consequências prejudiciais desta doença. Este estudo teve como objetivo a caracterização da marcha e investigação de desvios na atividade eletromiográfica de sujeitos diabéticos em fases iniciais do Sistema de Classificação de Risco do Grupo de Trabalho Internacional em Pé Diabético (the International Working Group on Diabetic Foot (IWGDF) Risk Classification System). Os dados foram gerados a partir de dois grupos: diabéticos sem neuropatia periférica (nível 0 do IWGDF) e diabéticos com neuropatia periférica, com doença arterial e/ou deformidade do pé (nível 2 do IWGDF). O estudo foi realizado no Laboratório de Biomecânica do Porto, Universidade do Porto (LABIOMEP-UP), através de um sistema de captura de movimento, sistema tridimensional de análise de marcha e quatro plataformas de força. A atividade eletromiográfica dos músculos gastrocnemius medialis e tibialis anterior de ambas as pernas foi avaliada ao longo do ciclo de marcha, em sincronia com o sistema de captura de movimento. Os participantes com neuropatia periférica apresentaram um conjunto de alterações evidentes na marcha, incluindo uma velocidade de marcha significativamente inferior, passos mais curtos, menor cadência, restrição da mobilidade articular dos membros inferiores e alteração dos padrões eletromiográficos dos músculos dos membros inferiores. O grupo neuropata apresentou também valores de força de reação do solo inferiores em amplitude ao longo do ciclo de marcha e posteriores no tempo, o que poderá contribuir para as diferenças observadas na velocidade e cadência de marcha. No geral, os resultados deste estudo destacam as diferenças biomecânicas na marcha de pessoas com diabetes classificadas em grupos de risco distintos. Destaca também a importância da análise de marcha no fornecimento de conhecimento preciso e confiável das características de marcha e estratégias compensatórias adaptadas num dado instante, e também ao longo do tempo, como fator de prevenção, diagnóstico e inovação para a população diabética. No entanto, trabalho futuro é necessário de forma a avaliar os distúrbios da marcha na neuropatia periférica diabética, principalmente na marcha sob condições de 'vida real' em ambientes mais desafiadores, dinâmica inversa e momentos articulares. Estudos adicionais para identificar as alterações do padrão de atividade muscular e esclarecer os fatores específicos relacionados à neuropatia periférica diabética são também necessários.
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