Summary: | As doenças cardiovasculares são a principal causa de morbilidade e mortalidade nos países ocidentais. No entanto, tem sido demonstrado que a incidência destas patologias em mulheres pré-menopausa é significativamente mais baixa quando comparada com mulheres pós-menopausa e homens de idade comparável. Assim, foi sugerido que os estrogénios, nomeadamente o estradiol (E2), possam exercer um papel cardiovascular protetor, nomeadamente ao serem potentes vasodilatadores. No entanto, os mecanismos subjacentes ao efeito vasodilatador do E2 permanecem por esclarecer. Adicionalmente, o papel desta hormona é controverso em patologias da gravidez, como a diabetes gestacional ou a hipertensão gestacional. Assim, no presente estudo foram utilizadas artérias umbilicais humanas sem endotélio de grávidas saudáveis (AUHctr), com diabetes gestacional (AUHdge) ou com hipertensão gestacional (AUHhip). As artérias foram incubadas em meio de cultura durante 24h com ou sem adição de E2 para estudar os efeitos genómicos e não genómicos do E2 nas AUHctr, AUHdge e AUHhip, assim como o mecanismo vasodilatador do E2 nas AUHctr. Após a incubação, as artérias foram colocadas em banho de órgãos para registo da tensão isométrica, e foram estimuladas, de forma a contrair, com serotonina (5-HT, 1µM) ou Cloreto de Potássio (KCl, 60 mM). Em seguida, as artérias contraídas foram expostas a concentrações crescentes de E2 (1-100µM) ou, como controlo, do seu veículo (etanol). Para determinar o mecanismo vasodilatador do E2 foram usados os seguintes fármacos: nifedipina, um inibidor dos canais de cálcio tipo L (LTCC); nitroprussiato de sódio, um estimulador da guanilato ciclase solúvel; péptido natriurético auricular, um estimulador da guanilato ciclase particulada; 1H-[1,2,4]oxadiazolo[4,3-a]quinoxalin-1-one (ODQ), um inibidor da guanilato ciclase solúvel; e SQ 22536, um inibidor da adenilato ciclase. Para a análise da expressão genética foram utilizadas as células do músculo liso das AUHctr obtidas após dissecação do cordão umbilical e posterior cultura celular. Estas células foram incubadas durante 24h em meio sem soro, e, de seguida, durante 24h em E2 (10nM e 100nM) ou em veículo. Após extração de RNA e posterior síntese de cDNA, a expressão de genes envolvidos na regulação dos canais LTCC (Cav1.2), canais de potássio dependentes de voltagem (Kv) (Kvß1, Kvß2, Kvß3) e canais de potássio de grande condutância ativados por cálcio (BKCa) (BKCaa, BKCaß) foi analisada através da técnica de PCR quantitivo (qPCR). Os resultados obtidos permitem concluir que o E2 provoca um vasorelaxamento rápido e dependente da concentração nas AUHctr, cujo mecanismo está associado à inibição dos LTCC e é independente da ativação das guanilato ciclases (solúvel e particulada) e da adenilato ciclase. Adicionalmente, a existência de efeitos genómicos do E2 não modificou os efeitos rápidos do próprio E2. Por outro lado, a exposição das células do músculo liso das AUHctr ao E2 (24h) levou a um aumento da expressão das subunidades Kvß1 dos canais Kv, e das subunidades BKCaa e BKCaß dos canais BKCa, não tendo sido detetadas alterações significativas na expressão de mRNA da subunidade Cava1 dos canais Cav1.2 nem das subunidades Kvß2 e Kvß3 dos canais Kv. Verificou-se que as AUHdge apresentam menor capacidade contrátil que as AUHctr e, após incubação com E2, são menos sensíveis aos efeitos rápidos deste fármaco. Concluiu-se também que as AUHhip apresentam maior sensibilidade à 5-HT e menor sensibilidade aos efeitos rápidos do E2 em comparação com as AUHctr.
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