Summary: | Em 1823, António Jacinto Xavier Cabral (1798 –1873) encontrava-se em Roma para aperfeiçoar-se na arte da gravura sob a orientação de Giovanni Gherardo De Rossi (1754-1827), antigo director da extinta Academia Portuguesa de Belas Artes outrora fundada na sede papal. Passados três anos, o mesmo admitia ter perdido o rasto de Cabral, após tê-lo introduzido na elite artística e intelectual romana como «promitente gravador». A descoberta de documentação inédita permite-nos, porém, revelar o teor das relações que Cabral conseguiu atar em Roma, onde ganhou notoriedade, não como artista mas como negociante de quadros, graças a um apurado sentido dos negócios e uma boa dose de oportunismo; associando-se a figuras centrais da economia romana, como o então banqueiro do Papa Gregorio XVI, Alessandro Torlonia, e apoiando-se em exímios intelectuais, como Pietro Ercole Visconti e Tommaso Minardi, para conferir a autenticidade dos quadros em sua posse, Cabral manteve aberta por vários anos uma galeria onde se vendiam quadri antichi, pinturas dos Carracci, Domenichino, Sassoferrato, Guercino, entre outros. Estas obras seriam apenas destinadas à venda e não à formação de uma pinacoteca, comprovando a forte atitude mercantil de Cabral, que em 1855 valer-lhe-ia o rol de testa-de-ferro no processo de venda da valiosíssima coleção Camuccini ao duque de Northumberland. A comunicação propõe enquadrar esta figura no contexto do mercado romano de arte de Oitocentos, refletindo sobre o consumo de obras de arte e a sua circulação a partir do centro nevrálgico de Roma. Propomo-nos também uma reflexão sobre as possíveis relações entre Cabral e os artistas portugueses que viajaram para Roma, tendo em conta que nos anos quarenta os pintores Metrass e Meneses tiveram acesso à sua galeria para copiarem os quadros dos mestres. O catálogo, agora descoberto, da sua importante e requintada colecção de gravuras será também objeto de análise.
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