O espólio metálico do Outeiro de S. Bernardo (Moura) : uma reapreciação à luz de velhos documentos e de outros achados

Estuda-se o espólio metálico recolhido por Manuel Heleno em sondagens por si orientadas, na companhia de J. Fragoso de Lima, no povoado calcolítico do Outeiro de S. Bernardo (Moura). O acesso a documentação manuscrita inédita, pertencente até época recente à família de Manuel Heleno, na qual é descr...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Cardoso, João Luís (author)
Other Authors: Soares, António (author), Araújo, Maria Fátima (author)
Format: article
Language:por
Published: 2015
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.2/3839
Country:Portugal
Oai:oai:repositorioaberto.uab.pt:10400.2/3839
Description
Summary:Estuda-se o espólio metálico recolhido por Manuel Heleno em sondagens por si orientadas, na companhia de J. Fragoso de Lima, no povoado calcolítico do Outeiro de S. Bernardo (Moura). O acesso a documentação manuscrita inédita, pertencente até época recente à família de Manuel Heleno, na qual é descrita as condições do achado de cada uma das peças estudadas, permitiu que agora se atribuísse ao conjunto o significado e importância que lhe é devido. As análises químicas realizadas por XRF dispersiva de energias, sublinharam tal realidade, ao evidenciarem o carácter homogéneo da sua composição (cobre + arsénio, este como elemento vestigial) e, por conseguinte, a elevada probabilidade de utilização de uma mesma tecnologia de fabrico e do recurso às mesmas fontes de abastecimento. Trata-se do mais importante conjunto de artefactos metálicos domésticos atribuíveis a uma única ocupação campaniforme reconhecida no ocidente peninsular. A tipologia dos artefactos de uso utilitário, conquanto se integre ainda no Calcolílico, evidencia já algumas diferenças face às peças homólogas características do Calcolítico Pleno da Estremadura e do Sudoeste português, o mesmo se verificando com os materiais coevos da bacia extremenha (ou média) do Guadiana. No que respeita às armas, nenhuma figura actualmente entre o espólio conservando; trata-se de um punhal com lingueta, de um outro munido de um par de chanfros de encabamento simétricos, provavelmente reforçado na folha, e de uma ponta Palmela, que confirmam a atribuição cronológico-cultural do conjunto ao campanifonne. A peça mais importante é uma ponta de javalina, cujos únicos paralelos peninsulares se resumem ao célebre conjunto do dólmen de La Pastom (Sevilha), às duas peças soltas recolhidas à superncie no povoado de La Pijotilla (Badajoz) e, bem mais próximo, ao exemplar mutilado recolhido em escavação arqueológica no Cerro dos Castelos de São Brás (Serpa); O estudo comparativo realizado sobre tais peças, conduziu ã conclusão de esta arma não ser incompatível com a cronologia do conjunto em que se integra, situável nos últimos séculos do III Milénio a.c. A importância do espólio metálico agora publicado, confere ao povoado do Outeiro de S. Bernardo o estatuto de sítio metalúrgico Calcolítico, ou pelo menos de centralizador do comércio de artefactos de cobre (hipótese reforçada pelo achado de um possivel lingote), sendo as peças agora estudadas, utilizadas no local ou destinadas a serem exportadas para outros locais, integrando-se nos circuitos transregionais (incluindo matérias-primas como o cobre sob a forma de lingotes) estabelecidos no decurso do Calcolítico entre a Estremadura portuguesa e o Alentejo. Este papel de destaque na coordenação destas actividades é ainda reforçado, por um lado, pela posição estratégica do sítio face ao vale do Guadiana e, por outro, pela sua proximidade das minas pré-históricas de cobre existentes na margem esquerda portuguesa do Guadiana, explorando tanto o cobre nativo, como os carbonatos cupríferos. Esta realidade é consentânea com a conhecida na região de Badajoz, na qual os povoados campaniformes e, entre estes, os fonificados, foram os que mais se dedicaram às actividades metalúrgicas.