Summary: | Esta dissertação aborda o tema da habitação na perspectiva da relação: habitação-habitante-lugar, num fragmento temporal, e a sustentabilidade dos sistemas e materiais construtivos adotados na produção habitacional. Além de pretender contribuir para a reflexão e discussão sobre as características da habitação, que viabilizem a sua compatibilidade com as atuais necessidades habitacionais, do habitante e visando a imprevisibilidade do futuro, pretende-se também demonstrar e verificar, a capacidade de resposta das características espaciais e arquitetónicas introduzidas na conceptualização do modelo habitacional selecionado para este trabalho, como possíveis respostas a três problemáticas identificadas na atual habitação maioritariamente disponibilizada, produzida e em produção. Relação: Habitação-Habitante A maioria das habitações disponíveis, no atual parque habitacional, apresenta uma limitada e condicionada capacidade espacial a alterações de uso e apropriação que o habitante possa entender, por diferentes necessidades ou intenções. Entre outros possíveis entendimentos, a conceptualização sobre considerações desatualizadas, ou sob confortáveis inércias e excessivas predeterminações detalhadas, de usos e funções. Por isso, carentes de adaptabilidade ou flexibilidade, a alterações futuras que o habitante entenda de serem introduzidas. Maioritariamente concebidas para um modelo de família, tradicional, que já não sendo paradigmático, face aos diferentes modelos familiares que surgem, compostos por grupos heterogéneos - género e número - consanguíneos ou não, de indivíduos em coabitação e com, possíveis e diferentes, permanências temporais. Para responder a esta problemática considerou-se operar sobre o espaço habitacional, introduzindo-lhe características espaciais que viabilizem vários esquemas funcionais e também permitam ao habitante decidir livremente os usos e funções das diferentes espacialidades da habitação, ou introduzir alterações, com um mínimo de complexidade técnica e económica. As principais características conceptuais consideradas são: Adaptabilidade, Flexibilidade, Polivalência, Interpretabilidade. Relação: Habitação-Lugar A habitação representa uma das expressões mais visíveis da identidade cultural – também tecnológica e social – que define cada uma das diferentes sociedades que compõem a humanidade e cuja heterogeneidade, entre outras condições, são fundamentais para a sobrevivência da Humanidade. Dinâmicas globalizadoras de diferentes áreas, como por exemplo: económica, social ou tecnológica, que ameaçam sociedades e culturas minoritárias ou regionais sem respeitarem o legado histórico-cultural, único de cada lugar e de cada sociedade, preterindo-o a modas e conveniências bem promovidas, refletindo-se maioritariamente em duas vertentes: - Congelamento de uma identidade e de um modo de vida, museuficação para consumo turístico. -Absorção cultural e social de identidades – únicas -, e da própria sociedade, com total extinção de referências genéticas e culturais. A operatividade adotada como resposta a esta problemática incide sobre a preservação e modernização do espirito do lugar – a noção romana de Genius Loci –, considerando-se para isso: as existências naturais e artificiais da envolvente, através da manipulação arquitetónica concebida de modo a contextualizar a habitação resultante, com o lugar e com o tempo - o espirito do tempo, Zeitgeist. Operou-se para o efeito sobre a desconstrução formal dos volumes vernaculares adotados, seguida pela reorganização dos elementos resultantes de modo a permitir, uma leitura alternativa, isenta de mimetismos e promotora de eventuais, habitações imaginárias. Sustentabilidade do sistema construtivo e materiais A indústria que suporta a produção da habitação tem grandes responsabilidades, direta-indiretamente, no impacte ambiental, entre outras causalidades: o crescimento das cidades, a produção de cimentos e outros produtos industrialmente processados, bem com a produção de resíduos. A operatividade considerada neste trabalho como possível resposta a esta problemática, adota a sustentabilidade construtiva como parte integrante de todo o processo conceptual a fim de garantir ou contribuir para uma qualidade ambiental na atualidade com reflexos no futuro. Para a minimização do inevitável impacte ambiental provocado pela indústria da construção habitacional, este trabalho promove, adota e prioriza a utilização e aplicação das novas tecnologias disponíveis, em complemento com técnicas e materiais ancestrais de baixo nível impacte ambiental, como por exemplo a taipa, os adobes ou os BTC`s em detrimento da utilização de materiais e sistemas construtivos com elevado nível de impacte ambiental como por exemplo os produtos industrialmente processados como cimento tipo Portland utilizado também na produção de betão, os tijolos cerâmicos – industriais - ou derivados de petróleo como por exemplo as telas de impermeabilização asfálticas. A interpretação de conceitos e princípios – aos ombros de gigantes – de autores com trabalhos de referência sobre esta temática, entre outros: Lerup, Habraken, Leupen, Hertzberger, Norberg Schulz, Raul Lino ou Nietzsche, recolhidos durante a investigação sobre o tema habitação, foram adotados, adaptados e introduzidos no modelo selecionado para a verificação das características da habitação entendidas de responderem às problemáticas referidas, e que se apresenta neste trabalho sob o título: HABITASTÉRIO. Um sistema conceptual para a Habitação - Uma relação: habitação-habitante-lugar, num fragmento temporal.
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