Summary: | Os deuses, retratados nos poemas homéricos por uma “sublime frivolidade” (Reinhardt) e uma “superlativação das qualidades humanas” (Rocha Pereira), observam, das moradas olímpicas, as acções e os sofrimentos dos mortais, que tomam como objecto de interesse e por causa dos quais se desentendem em discussões assíduas. As divindades homéricas, potentes nos contactos com os homens, funcionam como motor das narrativas épicas. Na Batracomiomaquia, a actuação na esfera divina determina igualmente a sucessão dos acontecimentos entre os seres terrenos, bem como o desenlace da guerra (anti-)heróica dos ratos contras as rãs. Nesta epopeia animalesca, como procuro demonstrar, as divindades adoptam, em versão paródica, as qualidades dos seus modelos homéricos: mostram-se figuras ao mesmo tempo domésticas e beligerantes, implacáveis e risíveis.
|