Summary: | A salinização dos solos é um fenómeno crescente à escala global, que provoca a degradação da estrutura do solo e a sua erosão, afetando negativamente o crescimento das plantas, a produção agrícola e a qualidade do solo e da água. Em Portugal, este problema está limitado às zonas costeiras afetadas pelas marés (sapais) e a áreas agrícolas do sul do país em resultado do uso de águas salinas na irrigação. O aumento da agricultura intensiva, associado a uma subida da temperatura causada pelas alterações climáticas, perspetivam, para as próximas décadas, um acréscimo das áreas afetadas pela salinidade. A área de estudo deste trabalho localiza-se no denominado Baixo Vouga Lagunar (BVL), uma região de particular interesse agrícola e ecológico, localizada entre a foz dos rios Vouga e Antuã (Aveiro), a qual corresponde a uma zona de transição sob influência da ação direta das marés e fortemente afetada por intrusão salina nos campos agrícolas. Neste sentido, entre 1995 e 1999, foi construído um dique com 4 km para proteger os solos agrícolas da invasão por águas salinas. No entanto, este dique não foi concluído e a área não protegida pode ser considerada como exposta à intrusão superficial de água salina. De forma a avaliar o grau de salinização presente nos solos agrícolas desta região foram recolhidas amostras de solos (nas profundidades de 0 – 25 cm e 25 – 50 cm) em 51 pontos de amostragem e águas subterrâneas de 7 piezómetros distribuídos ao longo da área de estudo. Tanto nos solos como nas águas foram determinados os parâmetros químicos e físico-químicos. Dos resultados obtidos para as amostras de solos constatou-se que 50 % destas se encontravam afetadas por processos de salinização, classificando-se estes solos como sódicos ou sódico-salinos. Todas as amostras de águas apresentaram valores para os cloretos, condutividade elétrica, índice SAR e total de sólidos dissolvidos superiores aos valores máximos recomendados pela legislação portuguesa para águas destinadas à rega, pelo que fica inviabilizada a utilização das mesmas para este fim. Por comparação com dados químicos e parâmetros físico-químicos, obtidos num estudo conduzido em 2006 para solos da mesma região, verificou-se que está a ocorrer um avanço da salinidade, mais especificamente do extremo sudoeste do dique para o interior do BVL e ao longo do Esteiro de Canelas. Por conseguinte, estes resultados mostram que a atual dimensão do dique é insuficiente para garantir a proteção dos solos agrícolas de uma ainda importante área do BVL, continuando a dar-se a entrada de águas superficiais salobras
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