Resumo: | BACKGROUND A centralidade na pessoa que aprende, que determina o que aprende e o que quer aprender, ganha enfase no contexto atual de ensino1. A relação com pares pode facilitar a responsabilidade do estudante, aumentando a sensação de autonomia2. O peer coaching traduz o estabelecimento de relações entre estudantes que ajudam a aprendizagem, a mudança intencional, reduzir o stress, aumentar o envolvimento e a conexão3. A relação estudante-professor, quando baseada em parcerias fundadas em respeito, reciprocidade e responsabilidade partilhada (student-faculty partnership) pode reforçar os contributos para os estudantes4. OBJETIVO Descrever a experiência da aplicação de uma estratégia inovadora em contexto de sala de aula prática do contexto educacional de enfermagem baseada no peer coaching. METODOLOGIA Estratégia aplicada a 14 estudantes (1º ano Licenciatura), em aula prática - Fundamentos/Procedimentos de Enfermagem II da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Foi apresentado um procedimento técnico (cateterismo vesical) por um estudante "perito", de nível académico mais avançado que os estudantes "iniciados", que assumiu a liderança da instrução/treino da técnica. Foi supervisionado pelo professor desde a preparação à concretização em aula. Realizámos um estudo transversal, qualitativo, com base em narrativas e respostas a perguntas abertas, obtendo informação acerca da vivência desta estratégia. Ao estudante "perito" foi solicitado uma narrativa prévia e póstuma à aula. Aos estudantes "iniciados" foi aplicado um questionário com 7 perguntas abertas, para aferir expetativas e o impacto da estratégia na aprendizagem. Análise dos achados com recurso à análise de conteúdo (domínios, categorias e quantificação de indicadores). RESULTADOS Os contributos da estratégia, identificados pelo estudante "perito", foram: Comunicação: "Aperfeiçoar a comunicação e a interação grupal"; Conhecimento científico: "Permitiu-me desenvolver a minha autoformação"; Expressão emocional: "Informar sobre sentimentos e vivencias experienciada"; Consciência como role model: "Consciência para a responsabilidade na aprendizagem de outros estudantes" e na Educação/Pedagogia: "Perceber os princípios pedagógicos pelos quais os professores se regem". Relação com o professor: "A Professora estará para me orientar e consolidar o procedimento" e Projeto pessoal de aprendizagem: "Transportam-me para fora da minha zona de conforto e avaliar as minhas fragilidades e até onde serei capaz de "voar". Por fim, enfatizou as Potencialidades da estratégia: "Bastante positiva e irreverente" e o Insight sobre a sua própria experiência: "Tive também oportunidade para ver refletidas nos colegas do 1º ano as dúvidas que me assaltavam enquanto estudante naquele ano de aprendizagem". Os contributos da estratégia para a aprendizagem dos estudantes "iniciados" foram organizados em 6 categorias: Proximidade de experiências (28 indicadores) que reflete a vantagem da relação paritária entre estudantes: "Percebe de forma mais pessoal o tipo de dúvidas" (E3). A Aproximação à realidade/antecipação do futuro (20 indicadores) e Legitimação e gestão das emoções (20 indicadores) que refletem preocupações do domínio emocional e preocupação com o futuro na realidade clínica. Permite ficar "com outra imagem da realidade para que no futuro estejamos mais preparados para o enfrentar (E5) e "saber que os medos que tenho outras pessoas já tiveram e poderei ter a destreza e à vontade que outros alunos mais velhos tem (E14)". A categoria Estratégia facilitadora (15 indicadores) traduz vantagens da própria estratégia: "a matéria é exposta com maior rigor" (E7) e "permite maior atenção à aprendizagem"(E8). A categoria Paridade (12 indicadores) traduz a facilitação da aprendizagem pelo facto de ser "uma colega nossa a explicar-nos o procedimento (E13)". A Explicação mais clara (5 indicadores) uma vez que "é mais fácil ter um colega a partilhar informação (E2)". O professor tem como papel: Suporte ao estudante perito (14 indicadores) porque "deixou a colega expor os seus conhecimentos complementa a informação (E8) e Ponto de referência (9 indicadores). Descreveram a aula como: "bastante enriquecedora e interativa"; "dinâmica"; "enriquecedora"; "estimulante"; "eu consigo superar os meus medos"; "experiencia"; "foi importante"; "Com estas técnicas aprendo mais"; "inovador"; "interativa"; "partilha interessante de experiencias"; "produtiva"; "técnicas diferentes fazem a diferença"; "vantajoso". Houve unanimidade na ausência de pontos fracos da estratégia. CONCLUSÃO A estratégia beneficiou a criação de ambiente favorável à troca de experiências entre estudantes, criando sinergia e interação que parece potenciar a apropriação de conhecimento formal subjacente à prática instrumental, segurança, autoeficácia e reflexão nos estudantes "iniciados". Acrescenta inovação às aulas e os estudantes reforçam que a estratégia é diferente e permite a livre expressão de sentimentos. BIBLIOGRAFIA 1. Carlile, O. & Jordan, A. (2005). It works in practice but will it work in theory? The theoretical underpinnings of pedagogy. In. Emerging Issues in the Practice of University Learning and Teaching. O'Neill, G.; Moore, S. & McMullin, B. (Eds). Dublin: AISHE. 2. Lea, S. J., D. Stephenson, and J. Troy (2003). Higher Education Students' Attitudes to Student Centred Learning: Beyond 'educational bulimia'. Studies in Higher Education 28(3), 321-334. 3. Taylor, S. & Boyatzis, R. (2012). Looking at Stress and Learning: Peer Coaching with Compassion as a Possible Remedy. Transformative Dialogues: Teaching & Learning Journal. Volume 6 (1), 1-14. 4. Cook-Sather, A., Bovill, C., & Felten, P. (2014). Engaging students as partners in learning and teaching: A guide for faculty. San Francisco: Jossey-Bass.
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