Summary: | O eucalipto é das espécies florestais mais plantadas devido à sua importância económica. Em Portugal, (principalmente E. globulus) representa atualmente 26% da área total, sendo a espécie florestal mais abundante no país. Membros da família Botryosphaeriaceae podem ocorrer como endofíticos ou patogénios latentes numa variada gama de hospedeiros lenhosos. Várias espécies têm sido associadas a eucaliptos em todo o mundo. Apesar da sua importância económica, não existem estudos relacionados com a ocorrência de espécies de Botryosphaeriaceae associadas a eucaliptos em Portugal, nem sobre o impacto que as alterações climáticas possam ter no desenvolvimento de doenças. Foi estudada a comunidade de espécies de Botryosphaeriaceae que ocorre tanto em plantações saudáveis como doentes de E. globulus por todo o país. Nove espécies pertencentes a três géneros (Botryosphaeria, Diplodia e Neofusicoccum) foram identificadas, sendo o género Neofusicoccum claramente dominante tanto em plantas doentes como saudáveis. Neofusicoccum algeriense, D. corticola e D. seriata foram descritos pela primeira vez em E. globulus, enquanto N. algeriense, N. kwambonambiense e N. eucalyptorum correspondem aos primeiros registos em Portugal. É fundamental detetar precocemente estes fungos de modo a evitar surtos de doenças que possam resultar em elevadas perdas económicas. A sua identificação, de modo geral, baseia-se em técnicas moleculares que embora muito poderosas na discriminação de espécies podem ser demoradas e dispendiosas. A técnica de espectroscopia de infravermelho médio (MIR) permitiu a discriminação de espécies de Botryosphaeriaceae com base no seu perfil de “fingerprint” de infravermelho. Esta técnica revelou potencial para ser uma alternativa eficaz, rápida e económica aos métodos de identificação convencionais. Em ensaios de inoculação artificial foram encontradas diferenças claras na agressividade destes fungos. Neofusicoccum kwambonambiense e D. corticola foram as espécies mais virulentas, em contraste com B. dothidea e D. seriata. Apesar de algumas diferenças nos parâmetros morfo-fisiológicos não foi encontrada qualquer relação direta entre o tamanho da lesão (agressividade) e as respostas fisiológicas da planta. Considerando o perfil fisiológico global e as dimensões das lesões notou-se uma clara variação na suscetibilidade entre os diferentes genótipos de plantas testadas. As alterações climáticas influenciam a ocorrência e gravidade das doenças nas plantas. Os nossos resultados indicam que as plantas em stress hídrico são mais suscetíveis a espécies de Botryosphaeriaceae. Esta resposta foi particularmente relevante quando os fungos foram inoculados em plantas que já se encontravam em privação de água. Além disso, o pré-condicionamento das plantas a condições de seca levou a um ligeiro aumento da resistência à infeção fúngica. Os nossos resultados realçam o facto de as estratégias de gestão para as plantações não poderem ignorar o impacto que as doenças associadas a Botryosphaeriaceae podem ter num cenário de alterações climáticas.
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