Resumo: | Este trabalho teve como principal objectivo o estudo da inter-relação entre o consumo de substâncias psicoactivas e a saúde / saúde mental numa amostra de reclusos de dois Estabelecimentos Prisionais do sistema prisional português. Realizou-se um estudo descritivo transversal com aplicação de um questionário constituído por 4 secções: a) dados sócio-demográficos; b) avaliação da saúde através do EQ e da saúde mental através do CORE-OM; c) avaliação do consumo / dependência de substâncias psicoactivas (tabaco, álcool, drogas ilegais) e d) grau de informação / consciência relativamente às consequências do consumo destas substâncias. A amostra incluiu 60 reclusos do sexo masculino e maiores de 18 anos (média de idade = 38,45, desvio padrão = 10,99). Os resultados indicaram que a maioria dos participantes consumia substâncias psicoactivas. O tabaco foi a substância mais consumida (78,33%), seguido pelo álcool (68,97%) e pelas drogas ilegais (65,00%). A auto-avaliação da saúde através do EQ-VAS foi razoável (valor absoluto = 78,37 numa escala de 0 a 100) e a grande maioria dos participantes auto-avaliou-se sem problemas nas cinco dimensões do EQ-5d. Na saúde mental, avaliada pelo CORE-OM, a maioria (68,30%) dos participantes manifesta um grau de afectação de ligeiro (inclusive) a moderado. Os resultados de nível bom apenas se verificaram em 13,33% dos participantes. A auto-avaliação de saúde, pelo EQ-VAS, foi superior nos consumidores de álcool (81) com risco de alcoolismo (90) e/ou com provável dependência e problemas associadas ao consumo de álcool (86) bem como, naqueles com dependência média da nicotina (81). A auto-avaliação da saúde mental pelo CORE-OM foi considerada boa, principalmente, nos indivíduos com alta dependência da nicotina (28,60%) e naqueles sem risco de alcoolismo (22,70%). O pior grau de afectação de saúde mental registou-se maioritariamente nos reclusos com maior dependência de álcool (44,40%) e nos consumidores de drogas ilegais (20,50%). Os resultados do CORE-OM na população geral foram melhores do que os observados na amostra deste estudo, mas esta diferença não foi estatisticamente significativa. Este estudo aponta para a necessidade de melhor compreensão das causas e das consequências das altas prevalências do consumo de substâncias psicoactivas nos reclusos, assim como da eventualmente falsa percepção de uma melhor saúde nos consumidores de substâncias psicoactivas. Espera-se que os resultados apresentados encorajem intervenções de saúde pública, na medida em que a pena de prisão pode ser uma oportunidade privilegiada para um tratamento adequado de diversos problemas de saúde, incluindo o abuso e dependência de substâncias.
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