Summary: | Numa comunicação à Academia de História, que vicissitudes várias não permitiram ainda a publicação, tentei traçar uma panorâmica sobre a historiografia açoriana de meados do século XIX a meados do século XX, rodeada de reflexões sobre as linhas de força dessa temática. Pareceu-me, então, que, passado o ardor da política activa que consumiu uma geração pelo menos e em que a história só encontrava lugar como arma de arremesso e como fundamento para as opiniões revolucionárias, se abria um período mais calmo de reflexão e gosto pelo estudo da sociedade. É verdade que Francisco Ferreira Drumond (1796-1858), exemplo típico do cidadão envolvido no ardor da luta política e ideológica, encontrou vagares para a investigação e para a construção de uma importante obra típica da historiografia liberal e nisso foi precursor. Mas ele é um exemplo singular e não define uma época. A geração que se lhe seguiu, à qual pertenceu o nosso homenageado Ernesto do Canto (1831-1900), a que poderiamos chamar a geração do pósguerra é que vai, apesar dos tempos conturbados que viveu na juventude, ter tempo para lucubrações e reflexões sobre o passado. Eles serão nos Açores os representantes da historiografia dos vencedores e todos acabaram marcados pelo triunfo da causa liberal. É uma historiografia iluminada pelas preocupações dos novos tempos redentores, preocupada com o social mais do que com o indivíduo e com o laicismo, valorizando excessivamente o documento escrito e sobretudo reflectindo as preocupações do presente como o farol para a história que escrevem. Uma história comprometida política e socialmente, muitas vezes apologética, mesmo quando anuncia a isenção e pretende ser reflexiva. [...]
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