Summary: | A mentira pode ser descrita como uma falsificação deliberada da informação por parte do comunicador. É um ato consciente e intencional direcionado a outro sujeito. Vários métodos têm vindo a ser desenvolvidos com o objetivo de detetar a mentira, sendo um dos mais comuns a observação das pistas verbais e não verbais durante o ato de mentir. No entanto, estas pistas podem não ser diagnósticas da mentira, mas sim pistas baseadas em crenças populares, como por exemplo, o nervosismo. As pistas mais fidedignas, validadas pela literatura, parecem ser a falta de detalhe ou a plausibilidade do discurso. Um dos métodos utilizado ultimamente, sendo este o foco deste estudo, é baseado na abordagem cognitiva da deteção da mentira. Esta abordagem parte do princípio que mentir é cognitivamente mais exigente do que dizer a verdade. Ao ser aumentada a carga cognitiva através de uma outra tarefa cognitiva, mentir torna-se bastante difícil para o indivíduo devido à sobrecarga cognitiva provocada pela tarefa. Desta forma, o indivíduo pode mostrar sinais evidentes de excesso de carga cognitiva, expondo a mentira. O presente estudo teve como objetivo verificar se a realização de uma tarefa adicional (tarefa de Stroop modificado) durante a resposta a uma entrevista favorece o aumento de pistas de sobrecarga cognitiva que contribuam para uma maior precisão da deteção da mentira por parte de um observador. Outro objetivo foi igualmente compreender se a deteção da mentira era baseada em pistas não diagnósticas, ou seja, pistas baseadas em crenças populares (estereótipos). Neste estudo participaram 184 reclusos de diferentes estabelecimentos prisionais portugueses. A sua tarefa consistiu na visualização de diferentes vídeos (um por participante) e no preenchimento de um questionário sobre o vídeo, onde avaliavam quatro domínios (esforço mental, nervosismo, controlo do comportamento e dificuldade da tarefa) e classificavam o entrevistado do vídeo como inocente ou mentiroso. Os nossos resultados demonstraram que as situações em que é aumentada a carga cognitiva durante a entrevista não exercem influência na precisão da deteção da mentira, tendo sido esta globalmente baixa. Em parte, os reclusos parecem ter baseado a sua deteção da mentira em crenças populares, mas, na maioria das vezes, igualmente utilizaram pistas diagnósticas, como por exemplo o conteúdo do discurso. De modo geral, verificou-se que os vídeos onde é utilizada a técnica do aumento da carga cognitiva não contribuiu para melhorar a precisão da deteção da mentira ou da verdade. Contudo, através deste estudo demonstrouse que o nervosismo continua a ser utilizado como uma pista na deteção da mentira, todavia os reclusos igualmente utilizaram pistas diagnósticas validadas pela literatura, não tido estas influência na precisão
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