Summary: | Esta investigação em Relações Internacionais (RI), na vertente de Estudos de Segurança e Estratégia, analisa o resultado de uma dialética de vontades, materializada pela resistência portuguesa à descolonização na África Austral, entre 1949 e 1975, à qual se opôs, em reação, um conjunto crescente de atores, estatais e não-estatais, e com influência regional ou global. Do confronto, com Portugal ao centro, resultou uma arquitetura de segurança sistémica e de geometria variável, que “arrastou” a Guerra Fria para o espaço austral, globalizando-a. Para o efeito, fazendo uso de uma estratégia qualitativa e de um raciocínio dedutivo, ancorado nos conceitos de estratégia, arquitetura de segurança e Guerra Fria, analisam-se três subperíodos. Um primeiro (1949-1960), designado de “mobilização”, no qual Portugal procurou capacitar, holisticamente, os seus instrumentos de poder. Um segundo (1961-1969), intitulado de “confronto”, moldado pela guerra em dois (Angola e Moçambique) dos três teatros de operações e que atraiu um amplo leque de atores, que, direta e indiretamente, uniram os níveis estatal, regional e global, lançando as bases para uma aliança defensiva entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia. O terceiro subperíodo (1970-1975), denominado de “queda e consequências”, dá corpo aos efeitos sistémicos de uma oposição de vontades, prolongada no tempo e internacionalizada, conduzindo à formalização do Exercício ALCORA. A lassidão da resistência precipitou a queda do regime, reconfigurando uma arquitetura securitária que expôs as “amarras” regionais e da Guerra Fria. Portugal moldou, assim, a Guerra Fria, sendo, desde o início, uma extensão ocidental em África e um “elemento deixando em contacto”, no esforço secundário do conflito entre blocos. Da investigação resultam 14 contributos para o conhecimento, no campo teórico e de aplicação. Ao nível teórico, destaca-se a abordagem às RI através da guerra, em desalinhamento com o mainstream. No campo de aplicação, sublinha-se a criação do Modelo de Arquitetura de Segurança @plicado à África Austral Portuguesa (MAS@AAP). A guerra do Ultramar foi muito mais do que uma guerra em África. Foi uma parte da Guerra Fria.
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