Cafres e Cafraria. A construção de categorias classificatórias dos africanos na documentação portuguesa (Séculos XVI e XVII)

Ao intitularmos esta tese de doutoramento Cafres e Cafraria. A construção de categorias classificatórias dos africanos na documentação portuguesa (Séculos XVI e XVII), procuramos analisar os modos como determinada extensão da terra africana foi percepcionada, representada e classificada do ponto de...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Paula, Maria da Glória Carriço de Santana (author)
Formato: doctoralThesis
Idioma:por
Publicado em: 2022
Assuntos:
Texto completo:http://hdl.handle.net/10451/53650
País:Portugal
Oai:oai:repositorio.ul.pt:10451/53650
Descrição
Resumo:Ao intitularmos esta tese de doutoramento Cafres e Cafraria. A construção de categorias classificatórias dos africanos na documentação portuguesa (Séculos XVI e XVII), procuramos analisar os modos como determinada extensão da terra africana foi percepcionada, representada e classificada do ponto de vista geográfico e antropológico, a partir de concepções e olhares exteriores. Reunimos um corpus documental constituído por uma amostragem significativa de fontes de diferentes tipologias, as quais materializam as concepções de uma época que assistiu à dilatação do conhecimento do mundo. As escritas produzidas no âmbito dos contactos directos com a diversidade geográfica e humana, ou as que decorreram da recolha de informações orais, leituras, transcrições e compilações, num âmbito de relações indirectas com o objecto descrito, vieram a construir sentidos e imagens mentais assentes em estereótipos, categorias e concepções herdadas de diversas temporalidades. Essas imagens circularam, foram apropriadas e geraram outras imagens e estereótipos, que se replicaram e cristalizaram naquilo que constitui um amplo “arquivo” ocidental de representações sobre povos e territórios africanos. Representações são imagens que tornam presentes objetos ausentes ou memórias, implicando mecanismos discursivos que conferem sentido ao que se afigura exterior, estranho e diverso. É nosso objectivo evidenciar os modos de transmissão dos estereótipos que sublinharam as diferenças ou procuraram semelhanças relativamente aos contextos dos sujeitos produtores dos discursos. Também procuramos compreender alguns momentos da dialéctica do encontro entre portugueses e comunidades do sudeste africano, atendendo aos níveis de evidência sobre as percepções locais do homem “branco”. Com esta dissertação desejamos contribuir para o conhecimento dos conceitos “cafre” e “Cafraria”, desde o momento em que se fez a transferência do vocábulo árabe kāfir (início do séc. XVI), até que se consumou a sua generalização nos discursos portugueses, e outros povos europeus se apropriam dos seus sentidos (1652), reinventando-os noutros contextos históricos de interacção cultural.