Resumo: | A leucemia linfocítica crónica (LLC) é a leucemia mais comum nos países ocidentais e ocorre tipicamente em doentes idosos. Esta doença linfoproliferativa é caracterizada pela proliferação e acumulação na medula óssea, sangue periférico e tecidos linfoides de linfócitos B CD5+ monoclonais e maduros, com um imunofenótipo distinto. A LLC é uma doença incurável com um curso clínico heterogéneo, variando de uma doença assintomática, indolente até uma doença de rápida progressão ou ativa. Esta variabilidade deve-se a fatores intrínsecos (alterações genéticas e epigenéticas) e extrínsecos (microambiente tumoral e desregulação de várias vias de sinalização) às células leucémicas, que conduzem ao comprometimento da apoptose e à sobrevivência e proliferação celulares. Na presença de linfocitose (pelo menos 5.000 linfócitos B monoclonais/μL no sangue periférico), o diagnóstico da LLC é estabelecido por imunofenotipagem. Os avanços na compreensão da patogénese da LLC levaram ao desenvolvimento de novas ferramentas de prognóstico, complementares aos sistemas de estadiamento de Rai e Binet, e de novas terapêuticas dirigidas que melhoraram o outcome clínico. Apenas os doentes com um estadio de Binet ou Rai avançado e os doentes com doença ativa ou sintomática beneficiam do início do tratamento, os restantes devem ser monitorizados, sem tratamento, até progressão da doença ou desenvolvimento de sintomas. Muitos doentes ainda beneficiam do uso de quimioterapia e anticorpos monoclonais anti-CD20. Contudo, a descoberta da importância do recetor dos linfócitos B e das proteínas anti-apoptóticas na biologia da LLC, permitiu o aparecimento de novos agentes que têm estas vias chave da doença como alvo. Os agentes com ação dirigida são muito eficazes, bem tolerados e têm melhorado o outcome dos doentes de alto risco. Consequentemente, estes agentes revolucionaram o tratamento da LLC e conduziram a um declínio do uso da quimioimunoterapia na maioria dos doentes. A investigação de novas terapêuticas, incluindo inibidores das cinases de segunda e terceira geração, novas combinações de fármacos, agentes imunomoduladores e imunoterapia celular, promete melhorar ainda mais o tratamento da LLC.
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