Summary: | Introdução: A chegada de um recém-nascido é um grande desafio para os pais, existindo muitas questões relativamente à saúde do recém-nascido. A sintomatologia inespecífica associada à vulnerabilidade inerente ao período neonatal geram dúvidas e preocupações que motivam o recurso, muitas vezes inadequado, ao Serviço de Urgência (SU). Objetivos: Este estudo pretende caracterizar a população neonatal que recorre ao SU, identificar os principais motivos de vinda, meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT), diagnósticos, tratamentos e orientação, de forma a encontrar estratégias que otimizem a utilização deste serviço. Materiais e Métodos: Análise retrospetiva e descritiva através da revisão de processos de recém-nascidos que recorreram ao SU durante o ano de 2016. Serão analisadas as seguintes variáveis: idade, sexo, data de admissão, referenciação, motivo de vinda à urgência, MCDT, diagnósticos, tratamentos e orientação. Resultados: Foram observados 75 recém-nascidos num total de 92 admissões no Serviço de Urgência. Cerca de 77% nasceram por parto eutócico e 91,2% eram de termo. A idade média dos recém-nascidos foi 14,1 dias, com predominância do sexo masculino (60,9%). Em 57,6% os episódios ocorreram nas duas primeiras semanas de vida e verificou-se uma maior afluência nos meses de inverno (janeiro, fevereiro e março). Cerca de 89,1% recorreram ao SU por iniciativa própria, e os motivos mais comuns foram os sintomas gastrointestinais (31,4%) seguidos de queixas cutâneo-mucosas (30,6%), queixas respiratórias (18,2%), icterícia (9,1%) e choro/irritabilidade (4,9%). Apenas 30% realizaram MCDT, sendo os mais comuns a medição da bilirrubina transcutânea e a pesquisa de VSR. O diagnóstico mais frequente foi um recém-nascido saudável, correspondendo a 18,5% dos casos. Os seguintes diagnósticos mais comuns foram as infeções respiratórias altas (15,2%) e a icterícia (9,8%). Cerca de 70% dos recém-nascidos não realizaram tratamento. Relativamente à orientação, 87% das admissões tiveram alta para o domicílio e apenas 8,7% resultaram em internamento. Os principais diagnósticos associados a internamento foram as infeções respiratórias e icterícia. Discussão: Neste estudo, verificou-se que na maioria das admissões neonatais no SU não são realizados MCDT e que a maioria tem alta para o domicílio sem nenhum tratamento. Os resultados sugerem que a maioria das visitas se deve a patologia benigna ou questões de puericultura, sem necessidade de atendimento hospitalar urgente. O apoio e formação dos pais, em articulação com os Cuidados de Saúde Primários, aliado ao reforço do ensino e esclarecimento de dúvidas durante o internamento na maternidade são estratégias que poderão evitar a crescente utilização inadequada do SU.
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