Resumo: | Pode dizer-se que cada época plasma uma memória do passado em harmonia com as suas convicções políticas ou teorias artísticas. Assim, o imaginário que a posteridade guardou de Cleópatra VII Filopator encontra-se associado à representação de uma rainha em busca de poder e, simultaneamente, obcecada em conservar a sua beleza sublime, pois dela fazia uso para conquistas políticas. Deste modo se justifica a manutenção de aliados e amantes como Júlio César e Marco António durante as guerras civis do final da República, que viriam a representar o início do Principado em Roma. Este ensaio procede ao estudo da reanálise da rainha do Egipto no século XIX português, dando especial atenção ao poema “Cleópatra”, do conhecido poeta Luís Augusto Palmeirim (1825-1893). Com efeito, pela síntese que a sua personalidade realiza (exotismo, erotismo, suicídio), e pela tensão entre a sua condição feminina (beleza, sedução e amor) e o poder (que manobra pela sedução), Cleópatra configura, afinal, o paradigma romântico da mulher que se perdeu por causa do sentimento.
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