Summary: | Não faltam sínteses biográficas sobre Abel Salazar (1889-1946). Justificar-se-á, então, a elaboração de uma nova trajectória da vida de tal figura e a descrição da respectiva obra? Cremos que sim e tentá-las-emos, bem acompanhados, no âmbito de provas académicas com o rigor metodológico e a profundidade científica que estas exigem e, decerto, com os novos enquadramentos teóricos e metodológicos quanto à elaboração de um trabalho de tal índole. Na grande tradição historiográfica, podíamos elaborar este trabalho enquadrando o homem na sua época e mostrar depois os contributos mais específicos de alguém que cumpriu a vida com rigor, inteligência e talento, como médico, investigador, artista e particularmente cidadão. Todavia, antecipadamente, interessa-nos uma perspectiva prosopográfica, a adquirida de acordo às indicações de Lawrence Stone. Assim mais do que esmiuçar a época em que viveu a figura em causa, pretendemos desenhar o núcleo das suas relações nos âmbitos do seu labor: a ciência e a missão médica, a arte e a política. Extrapolando o método daquele historiador da modernidade para os tempos contemporâneos, no caso em questão, podemos agrupar um conjunto de figuras próximas de Abel Salazar: Aquilino Ribeiro, Egas Moniz, Miguel Bombarda, Marck Athias, Jaime Cortesão, Ruy Luís Gomes, entre outros. Como objectivo imediato, tentaremos demonstrar a similitude das trajectórias de vida destas personalidades com a do protagonista do nosso trabalho e retomar o conceito de geração que na moderna história da literatura portuguesa foi aplicado em outros casos. Qual a relação de Abel Salazar com os maiores vultos, já referenciados nos diversos âmbitos da história portuguesa do seu tempo? Quem participou na formação do seu ideário? Que intercâmbios houve entre os que caminharam com ele e quais as figuras que ele influenciou? Quem deixou marcas no seu pensamento? Quem o norteou? Que caminhos seguiu e porquê? Para conseguir responder a este conjunto de questões debruçar-nos-emos sobre as principais doutrinas e teorias científicas que o precederam e acompanharam a que aderiu ou a que se opôs e muito particularmente sobre o neo-positismo, que sabemos cultivou. Observaremos, pois, a formação do pensamento de Abel Salazar, a sua obra científica e artística, as suas perspectivas pedagógicas e a sua dimensão cívica. O pensamento científico e as práticas médicas em particular beneficiaram com o empenho que desde sempre ele colocou na constituição de museus e de bibliotecas especializadas na área. Não restam dúvidas da participação de Abel Salazar em tais procedimentos no país. A ele se deve a instalação do Museu de História da Medicina do Porto e decerto a colaboração na constituição da respectiva biblioteca.
|