Resumo: | O declínio na função cognitiva em idades avançadas apresenta-se como um dos maiores desafios atuais para os sistemas de saúde e sociedades envelhecidas. A identificação de fatores preditivos permite detetar e antecipar em fases precoces ou até mesmo abrir novas avenidas com medidas preventivas na função cognitiva. Os objetivos do presente estudo foram: (1) estudar as propriedades psicométricas (fiabilidade/estabilidade e validade concorrente) de um instrumento concebido para avaliar a função cognitiva, o Cognitive Telephone Screening Instrument (COGTEL), e (2) investigar as associações entre a função cognitiva, o estilo de vida e as variáveis psicossociais. As propriedades psicométricas do COGTEL foram estudadas num estudo piloto com 90 adultos idosos (29 homens e 61 mulheres), 68.2±6.7 anos de idade. No estudo das associações da função cognitiva, foram incluídos 701 adultos idosos, 268 homens e 433 mulheres (71.4±6.7 anos de idade). Todos os instrumentos foram aplicados por questionário, com recurso a entrevistas face-to-face. O coeficiente de correlação intraclasse no teste-reteste no score total do COGTEL (e respetivos 6 subtestes), Mini Mental State Examination (MMSE) e nível educacional variou entre aceitável-a-elevado (.708 < R < .946). Verificou-se uma correlação positiva forte, entre o COGTEL com o MMSE (r=.682; p<.001), bem como, com o nível educacional (r=.604; p<.001). Os adultos idosos mais jovens apresentaram scores significativamente mais elevados, na função cognitiva, atividade física, assim como um status socioeconómico superior, comparativamente aos mais idosos (ps< .040). Verificou-se uma correlação parcial negativa, entre a função cognitiva e o score de depressão (-.36, > r >-.39, p<.001) e positiva com o estilo de vida, atividade física, nutrição, qualidade de vida, satisfação social e estatuto socioeconómico (.11> r > = .55, p<.05s). A idade não afetou a força destas correlações, contudo, quando se controlou pelo estatuto socioeconómico as correlações enfraqueceram. Os resultados do presente estudo suportam a utilização do COGTEL como um instrumento breve, fiável e válido para analisar diferenças interindividuais no funcionamento cognitivo. Programas de intervenção focados na melhoria da função cognitiva em adultos idosos devem ter em atenção a força das correlações estudadas, mas, sobretudo, ter em consideração o nível socioeconómico dos participantes e não apenas a idade cronológica.
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