Summary: | Esta tese propõe uma reflexão sobre a especificidade do autorretrato poético, por meio da análise de poemas portugueses produzidos sobretudo ao longo do século XX, reconhecendo a existência de autorretratos na literatura portuguesa progressivamente assinalada e valorizada nas últimas décadas pelos estudos literários. O trabalho parte de uma seleção de textos que, de um número alargado de autores, revelam de modo mais explícito práticas autorretratísticas, destacando a entrada do vocábulo «autorretrato» (com grafia anterior, «auto-retrato») no léxico poético português do século XX, por exemplo, em títulos de poemas de Miguel Torga, António Pedro, Natália Correia, Alexandre O’Neill, Ana Hatherly, Rui Knopfli, Ruy Belo e Al Berto, como marca de um novo lugar-comum. A aproximação aos textos, por vezes associados a partir de afinidades temáticas, semânticas, formais ou estilísticas, é realizada na tensão entre a unicidade e a tradição, entre o público e o privado, entre a pessoalidade e a impessoalidade, entre a poesia e as outras artes (ou áreas). Neste sentido, discute-se de que modo a utilização de nomes (do próprio autor ou de outros autores) e pronomes, a criação de imagens textuais (recorrendo, por exemplo, a metáforas especulares) e a referência ao tempo biográfico autoral (datas e acontecimentos) contribuem para as construções autorretratísticas. Propondo uma leitura categorial como género, defende-se que o autorretrato poético tem um desenvolvimento importante na literatura portuguesa do século XX em poemas que afirmam publicamente uma voz autoral.
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