Summary: | Tendo por base o consenso gerado em torno da importância do brincar arriscado na promoção da autonomia da criança e do futuro adulto, com este estudo pretendemos caracterizar e explorar a tolerância dos pais ao brincar arriscado, procurando analisar perceções, sentimentos e experiências na base de perfis mais e menos tolerantes e possíveis diferenças entre pais de crianças com desenvolvimento típico e atípico. Para tal realizou-se um estudo misto sequencial, que se iniciou com uma pesquisa por inquérito – com uso de uma versão traduzida e adaptada da escala The Tolerance to Risk in Play Scale (TriPS) da autoria de Bundy e Hill (2012) - seguida de um estudo de caso, com a realização de entrevistas a pais identificados como mais e menos tolerantes na primeira etapa de estudo. Na pesquisa por inquérito foram obtidas 620 respostas de pais de crianças entre os 3 e os 10 anos: 564 de crianças com desenvolvimento típico e 56 de crianças com desenvolvimento atípico. Para o estudo de caso, 22 dos participantes na pesquisa por inquérito foram recrutados para a entrevista - 11 pais de crianças com desenvolvimento típico e 11 de crianças com desenvolvimento atípico – selecionados sucessivamente em função de respostas indicativas de maior e menor tolerância ao risco. Neste estudo parece ficar claro que o brincar arriscado depende de uma atuação dos pais pautada pela monitorização, mediação verbal, antecipação e familiarização com as situações e o incentivo à exploração do risco. Essa tolerância e modo de atuar dos pais parece variar positivamente em função da idade da criança e dos pais, da escolaridade dos pais e do número de crianças no agregado familiar. Para além desses aspetos, as memórias de uma infância livre, de brincar na rua, está associada a perfis mais tolerantes. Em termos contextuais, o espaço físico, o contacto com a natureza e a possibilidade de variar rotinas surgem como fatores facilitadores. Embora os receios sobre a integridade física, os pais reconhecem unanimemente os benefícios do brincar arriscado quanto à satisfação da criança, desenvolvimento socio-emocional e sensório-motor, autonomia e compreensão dos limites e risco.
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