Summary: | A estabilidade organolética da cerveja engarrafada é atualmente um dos principais desafios da indústria cervejeira. Não obstante à contribuição de inúmeras substâncias, os compostos carbonilos, em particular os aldeídos, são responsáveis por muitas das mudanças desfavoráveis e percetíveis ao consumidor. Estas modificações são favorecidas por temperaturas não refrigeradas, armazenamento durante períodos longos, vibrações induzidas pelo transporte, entre outros fatores. Atualmente, existem ainda poucos dados na literatura científica sobre o impacto das condições reais de transporte, nomeadamente impacto das vibrações e temperaturas não refrigeradas, na estabilidade organolética da cerveja. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a evolução de 10 aldeídos em cerveja Lager engarrafada durante exportação por via marítima e armazenamento no destino. Para tal, simulou-se as condições reais que a cerveja produzida localmente é submetida, nomeadamente temperatura (19-30ºC), vibração (1.7 Hz) e tempo (até 120 dias). A análise dos compostos em estudo foi realizada por micro-extração em fase sólida seguida por cromatografia gasosa acoplada a espetrometria de massa. Os resultados obtidos revelaram que as condições de transporte (influência de tempo, temperatura e vibração) e armazenamento (tempo, temperatura) simuladas i) promoveram o aumento médio na concentração dos aldeídos de Strecker, de 65%, ii) enquanto os aldeídos formados a partir oxidação lipídica bem como o acetaldeído, regra geral, não apresentam variações significativas neste período. O aumento descrito em i) apresentou dois padrões: garrafas com abertura tradicional (carica) apresentavam valores médios de 131.6±9.9 e 190.3±9.4 µg/L enquanto garrafas com um sistema de abertura fácil 190.5±10.0 e 180.3±9.5 µg/L, após transporte e armazenamento respetivamente. O fenilacetaldeído foi o composto com maior variação nas condições estudadas, aumentando de 94.7±7.3 (cerveja fresca) para 143.6±8.0 e 168.9±8.9 µg/L, após transporte e considerando um período adicional de armazenamento, respetivamente. Adicionalmente, verificou-se que o procedimento de envelhecimento forçado tipicamente adotado, pode apresentar limitações a reproduzir as condições reais em alguns compostos. Em particular, destaca-se o benzaldeído, que em qualquer período de envelhecimento forçado, 7, 14 e 28 dias, apresentou concentrações, em média, inferiores, de 5.3±0.3 µg/L, 5.4±0.3 µg/L e 5.4±0.3 µg/L, respetivamente, em comparação com o teor real ao fim de 120 dias, de 6.4±0.4 µg/L.
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