Resumo: | Os deslizamentos provocam alterações significativas na morfologia das áreas afetadas e consequentemente na vegetação. Contudo, ao longo do tempo, as evidências morfológicas da ocorrência de movimentos de vertente, nomeadamente, as marcas de instabilidade, sofrem degradação por erosão, dificultando a correta identificação quer dos limites dos deslizamentos quer da data de ocorrência. Porém, a recuperação do ecossistema em termos vegetativos é diferenciada consoante o nível de perturbação no interior das áreas deslizadas, e nesse sentido, a vegetação apresenta um potencial de utilização como bioindicador de áreas outrora instabilizadas, podendo ser aplicado na diferenciação relativa da data de ocorrência dos deslizamentos. Com o objetivo de entender a diferenciação da vegetação entre os diferentes sectores internos de um deslizamento (cicatriz, corpo, pé) analisaram-se 4 deslizamentos rotacionais, localizados na vertente Casal do Nogueira – Lapão situada no sector norte de Arruda dos Vinhos, distrito de Lisboa. A sua escolha teve como pressupostos: serem espacialmente próximos; estarem enquadrados num contexto litológico e estrutural idêntico; terem data relativa de ocorrência distinta, porém conhecida; e terem sofrido reduzida influência antrópica desde a sua ocorrência. A recolha de dados foi realizada com recurso a inventários florísticos, obtidos através de parcelas de amostragem em áreas relativamente homogéneas, repartidos pelos diversos setores internos e áreas adjacentes dos deslizamentos, constituindo-se uma amostragem de tipo estratificado. Foram estudados 46 inventários florísticos divididos pelos diferentes setores, culminando na identificação e constituição de um elenco florístico de 115 taxa. Posteriormente através da incorporação das áreas inventariadas em ambiente SIG, foram analisados os fatores que demonstram maior fidedignidade para uso em estudos cronológicos. Para o efeito foram alvo de análise três variáveis (cobertura relativa; altura média da vegetação; espetro biológico). De forma complementar foi estudado o valor ecológico dos deslizamentos através da riqueza florística e dados de conservação de espécies e de habitats. Comprovou-se que a evolução da vegetação é lenta da cicatriz e rápida no pé, e que o grau de perturbação afeta a evolução em termos sucessionais e cobertura vegetal, sendo possível distinguir os três sectores considerados do ponto de vista florístico e fisionómico/estrutural em todos os deslizamentos. A diferenciação entre área deslizada e a área estável adjacente é notória, atenuando-se no caso do deslizamento mais antigo (com mais de 50 anos). A perturbação provocada pelos deslizamentos permite a entrada e abundância de espécies não habituais nas comunidades das áreas adjacentes além de possibilitar uma maior proteção de possíveis influências negativas de origem humana.
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