Resumo: | O património arquitetónico tem sido bastante intervencionado com vista a assegurar a sua conservação. No entanto, as intervenções nem sempre têm sido eficientes nem têm assegurado a compatibilidade entre materiais de forma a garantir a sua efetiva conservação e, assim, preservar toda a originalidade e valor (material, social e cultural) que representam. Para a conceção e realização de intervenções eficientes e compatíveis é indispensável aceder a dados obtidos por caracterização material, que muitas vezes é inexistente. A Muralha Fernandina de Lisboa - estrutura amuralhada construída em Portugal na segunda metade do século XIV - integra o património arquitetónico português. Para além de troços de muralha, inclui outros elementos como torres, cubelos (pequenas torres), entradas e postigos (pequenas portas). Partindo da informação existente, obtida por fontes bibliográficas, mas também orais, procedeu-se a uma inspeção visual em diversos troços da muralha, bem como à realização de ensaios não destrutivos in situ e à recolha de amostras de argamassas da alvenaria para ensaios laboratoriais de caracterização química, mineralógica, física e mecânica. Assim, após um enquadramento geral, onde são referidas algumas intervenções efetuadas na muralha nos últimos 20 anos, são descritos os troços inspecionados e os locais onde se procedeu à recolha de amostras e à realização de ensaios in situ. Seguidamente é apresentada a metodologia e procedimentos experimentais aplicados e, no final, os resultados da caracterização laboratorial efetuada e é feita a sua discussão. Os resultados obtidos indicam terem sido empregues diferentes materiais e tecnologias na construção da muralha, destacando-se a taipa e as alvenarias de pedra regular e principalmente de pedra irregular com argamassas à base de cal aérea com diferentes traços e agregados, muito provavelmente conforme a disponibilidade de material in loco na cidade medieval de Lisboa. Os resultados dos ensaios in situ revelaram genericamente boas características de resistência mecânica superficial das paredes principais da muralha. Relativamente aos ensaios fisíco-mecânicos, estes indicaram elevados valores de resistências superficiais e massas volúmicas, bem como comportamentos muito distintos face ao contacto com a água. Pela análise química e mineralógica foi possível comprovar que os materiais constituintes da estrutura indicam dosagens de ligante muito variáveis entre os vários locais estudados. Apesar da amostragem ter sido reduzida face à extensão da muralha, e se ter verificado a utilização de materiais de composição muito diversificada, os resultados que foram obtidos e a sua análise integrada possibilitou avaliar as características gerais da muralha, as técnicas de construção empregues e a constituição material. Considera-se ter contribuído para suportar futuras intervenções de conservação da muralha, nomeadamente na aplicação de argamassas de reparação compatíveis que assegurem efetivamente a eficiência da conservação material das diferentes secções que constituem esta estrutura.
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