Resumo: | O Parque Natural de Montesinho é uma área protegida localizada no nordeste de Portugal, que faz fronteira com a província espanhola de Zamora. Durante cerca de qua-tro anos (2000 a 2004) foram realizadas entrevistas semiestruturadas a uma centena de pessoas, maioritariamente mulheres, que vivem em trinta aldeias desse território, perten-centes aos concelhos de Bragança e Vinhais, com o objectivo de compilar, descrever e analisar o saber etnobotânico da população em estudo. Os dados foram condensados num catálogo etnobotânico que apresenta 364 espécies de plantas vasculares, das quais 55% são silvestres, 19 espécies de fungos e um líquen, a que correspondem 848 usos organizados em dez categorias principais e 626 nomes vulgares. Registaram-se elevados índices de consenso (0,93), apesar de muitos dos usos descritos já não estarem vigentes. No herbário da Escola Superior Agrária, encontram-se depositadas as respectivas pranchas de herbário e amostras de plantas secas, recolhidas durante o trabalho de campo. As espécies de uso medicinal (166 taxa), alimentar (120) e industrial (80) foram as mais citadas e aquelas a que foi atribuído maior número de finalidades. No entanto, tanto o número de plantas utilizadas no folclore (cerimónias religiosas, tradições e crenças), como na categoria de ornamentais tem um peso relativamente importante em relação ao total. Juglans regia, Secale cereale e Castanea sativa são as espécies com maior importância relativa. Xolantha tuberaria, Melissa officinalis e Pterospartum tridentatum são as que obtiveram maior frequência relativa de citação. O conhecimento etnobotânico é pertença de uma faixa etária entre os sessenta e os oitenta anos e varia segundo o género. As mulheres são as depositárias de estes saberes. Estas circunstâncias indicam a existência de um risco não negligenciável de que a transmissão do saber e das práticas associadas aos usos tradicionais das plantas pos-sa desaparecer, comprometendo a potencial mais valia cultural, social e científica que tais conhecimentos poderiam aportar às gerações vindouras.
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