Tradição em continuidade: as Quintas da Terra Fria do Nordeste Transmontano

Reconhecendo o impacto do desenho arquitectónico nos modos de vida e no ambiente, propõe-se uma (re)leitura crítica da arquitetura vernácula transmontana, procurando identificar estratégias que a relacionem com o homem e o território e que possam ser reinterpretadas hoje no sentido de uma maior sust...

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Detalhes bibliográficos
Autor principal: Gonçalves, Joana Maria Gonçalves dos Santos (author)
Outros Autores: Mateus, Ricardo (author), Ferreira, Teresa Sofia Faria Cunha (author)
Formato: conferencePaper
Idioma:por
Publicado em: 2017
Assuntos:
Texto completo:https://hdl.handle.net/1822/49225
País:Portugal
Oai:oai:repositorium.sdum.uminho.pt:1822/49225
Descrição
Resumo:Reconhecendo o impacto do desenho arquitectónico nos modos de vida e no ambiente, propõe-se uma (re)leitura crítica da arquitetura vernácula transmontana, procurando identificar estratégias que a relacionem com o homem e o território e que possam ser reinterpretadas hoje no sentido de uma maior sustentabilidade social, ambiental e económica que, simultaneamente, respeitem a identidade local. A investigação que se apresenta centrou-se nas quintas da Terra Fria do Nordeste Transmontano, caraterizadas pela dispersão em torno dos núcleos urbanos, que eram a sua oportunidade e razão de ser. Estas quintas, mais do que um objeto arquitectónico isolado, constituem um complexo de relações entre o doméstico, o território, a comunidade e os modos de vida, um sistema gerador de paisagem. Ao centrar o estudo nas fontes primárias procurou-se um levantamento que possibilite uma nova reinterpretação desta arquitetura mais próxima do seu significado, compreendendo os propósitos que levaram a estes modos de construir, vincadamente marcadas pelo seu carácter tradicional e familiar. As quintas da Terra Fria Transmontana não são apenas exemplares da economia agrícola mas também, e sobretudo, estruturas de ordem social e comunitária segundo uma hierarquia social patriarcal, encabeçada pelo Padrinho - no sentido de patrono e não necessariamente de batismo - autoridade reconhecida que geria todos os recursos, das terras à alimentação, num quadro dominantemente familiar. Este enquadramento familiar manifesta-se claramente na dimensão da casa e da parcela, que garantia o sustento dos habitantes, mas é também evidente nos edifícios que integram a quinta, dos pombais às capelas, passando pelos moinhos ou forjas, suprindo necessidades de habitação, produção, armazenamento ou de comunidade. A casa é uma entidade cambiante, amórfica, espontânea, construída, mantida e reconstruída de modo contínuo pelos seus habitantes. Na ausência de distinção entre construtor e habitante, desenvolvia-se num processo em que todos colaboravam nos períodos com menores tarefas agrícolas, pelo que as formas de construir perpetuavam-se, não só porque eram as únicas conhecidas ? passadas de geração em geração ? mas, sobretudo, porque eram as únicas que utilizavam os recursos existentes no local. Esta linearidade entre construtor, proprietário, habitante, agricultor, perdura através do tempo, pois depois de construída a casa era conhecida pelo nome ou alcunha do proprietário, numa relação de simbiose que se prolonga mesmo depois do desaparecimento da linhagem original, com os residentes a serem conhecidos pelo nome da casa. Esta relação entre a toponímia das quintas e os seus proprietários é clara em muitos dos casos analisados, acabando por anular ou se sobrepor ao nome original. O abandono progressivo a que muitos exemplares foram votados em Portugal contribuiu para uma perda acelerada da memória, essencial ao reconhecimento do lugar e da sua cultura. Urge reconhecer e valorizar esta herança essencial na construção da paisagem local e uma das suas marcas identitárias, identificando as suas fragilidades e potencialidades e estimulando a continuidade deste património vivo.