Resumo: | Os recursos hídricos são reservatórios de antibióticos e de bactérias de origem humana e animal resistentes a antibióticos. Embora as cianobactérias estejam expostas a este tipo de contaminantes, o seu papel no resistoma hídrico nunca foi investigado. Neste trabalho estudámos os padrões de suscetibilidade de cianobactérias (e bactérias associadas) a diferentes classes de antibióticos e pesquisámos mecanismos de resistência de forma a avaliar o contributo das cianobactérias e bactérias-associadas para o pool de determinantes de resistência a antibióticos em água doce. Analisámos a suscetibilidade de 4 estirpes de cianobacterianas das espécies Microcystis aeruginosa, Aphanizomenon gracile, Anabaena bergii e Planktothrix agardhii a vários tipos de antibióticos (beta-lactâmicos, aminoglicosídeos, quinolonas, sulfonamidas e tetraciclina) pelo método da microdiluição, adaptado às condições de cultura in vitro de cianobactérias. A concentração inibitória mínima (MIC) para cada antibiótico foi determinada com base no crescimento celular (OD450nm) e na integridade das culturas (observação microscópica). As bactérias isoladas das culturas cianobacterianas foram identificadas por sequenciação do gene 16S rRNA e o seu padrão de suscetibilidade a antibióticos foi avaliado pelo método da difusão em disco, de acordo com os breakpoints não específicos da Sociedade Francesa de Microbiologia. Foram pesquisados por PCR integrões de classe 1, 2 e 3 bem como genes de resistência a antibióticos beta-lactâmicos (blaTEM, blaSHV, blaOXA) e à sulfonamida (sul1, sul2) em todas as estirpes. Dos resultados obtidos com as cianobactérias, destaca-se o seguinte: 1) as estirpes não são suscetíveis ao ácido nalidíxico e ao trimetoprim nas concentrações testadas; 2) Microcystis aeruginosa (LMECYA 7) foi a estirpe menos suscetível aos beta-lactâmicos; 3) Planktothrix agardii (LMECYA 260) a estirpe menos suscetível à gentamicina e à norfloxacina; 4) Anabaena bergii (LMECYA 246) a menos suscetível à canamicina, norfloxacina e tetraciclina; 5) Aphanizomenon gracile (LMECYA 40) suscetível a um maior número de antibióticos; 6) A estirpe Planktothrix agardii (LMECYA 260) exibiu um integrão de classe 3-tipo e o gene sul1. As 27 bactérias isoladas apresentaram padrões de suscetibilidade diferentes entre si e das suas cianobactérias de origem. As bactérias isoladas da Anabaena bergii revelaram-se resistentes a um maior número de antibióticos, destacando-se, de entre estas, algumas estirpes de Novosphingobium panipatens positivas para o integrão de classe 1. O fenótipo de resistência a antibióticos exibido por cianobactérias e bactérias, bem como a presença de integrões de classe 1 e 3-tipo e do gene de resistência sul 1 nalgumas estirpes, sugerem que as cianobactérias e bactérias associadas podem ter um papel na emergência e disseminação de genes de resistência em reservatórios de água doce superficial. A inclusão de um maior número de estirpes de cianobactérias e bactérias associadas neste estudo permitirá avaliar se a resistência a antibióticos em cianobactérias é condicionada por características intrínsecas como o género, espécie e toxicidade (produção de cianotoxinas) e por aspetos extrínsecos como o seu nicho ecológico.
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