Summary: | A produção política e normativa sobre bem-estar social das crianças, nomeadamente a que emana da União Europeia, apoia-se, usualmente, em referenciais metodológicos que usam valores e ideias tomados aproblematicamente. Esses referenciais revertem para a pesquisa científica de suporte às políticas públicas, que assim reproduzem concepções não problematizadas sobre os termos de referência utilizados e têm consequência no aparato metodológico mobilizado. Genericamente, essas pesquisas sustentam-se em estatísticas, que aliam à sua natureza extensiva, uma muito reduzida capacidade de dar conta das diferenças e desigualdades entre crianças. Mais ainda, essas metodologias usualmente sustentam-se em procedimentos epistemológicos que perspectivam as crianças a partir de pontos de vista adultocêntricos e etnocêntricos. As questões da alteridade infantil, da diferença cultural e até, frequentemente, da desigualdade social, encontram pouca expressão na produção investigativa patente em múltiplos relatórios, nomeadamente nos originários das grandes organizações europeias e internacionais. Em simultâneo, dimensões como a acção e as culturas infantis são dificilmente apreendidas nessas investigações sobre bem-estar. A partir de uma perspectiva alternativa, procuramos neste artigo estabelecer as bases teóricas, epistemológicas e metodológicas que permitam, na análise do bem-estar infantil, cruzar os indicadores estruturais com as dimensões da subjectividade, e os factores sociais com a interpretação e acção das crianças, enquanto actores sociais concretos.
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