Resumo: | Partiu-se para esta dissertação com o objetivo de analisar o capital social das pessoas em situação de sem-abrigo por forma a perceber de que modo a sua reconstrução e mobilização interfere na exclusão social das mesmas. Os resultados do trabalho etnográfico, efetuado na cidade de Lisboa, revelaram que as relações de sociabilidade, são essencialmente estabelecidas na rua, marcadas por uma fraca vinculação e por escolhas derivadas essencialmente de circunstâncias momentâneas. Permitiram ainda compreender que o capital social destes agentes, enquanto recurso agenciável, se destina sobretudo à sobrevivência da vida na rua e deriva desta. Assim sendo, foi importante relacionar o nível de engajamento com a situação de sem-abrigo e o capital social dos agentes que se encontram nesta situação, como forma de entender a exclusão de que são alvo. Viver na rua é estruturar progressivamente um novo estilo de vida, que tem como referência o espaço público. A rua é alvo de apropriação, transformação e personalização, torna-se espaço da vida quotidiana, torna-se local de habitação e trabalho, sendo que os sujeitos que se encontram em situação de semabrigo se vão desvinculando, gradualmente, das suas redes de suporte existentes antes dessa situação de vida e aderem, progressivamente, aos códigos que imperam na rua. A sua identidade permite-lhes ocupar um lugar simbólico na urbe, revelador de indivíduos que se alheiam e desvinculam da sociedade, do sistema capitalista e consumista, materializado num grau de pobreza e exclusão extrema.
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