Summary: | A realidade do contacto com as línguas bantu e o facto de o português não ser a L1 da maioria dos falantes, entre outros factores, faz com que o português em Angola esteja a sofrer transformações. Por esta razão, propusemo-nos dissertar sobre “A Colocação dos Pronomes Clíticos no Português Angolano Escrito”, abrindo assim horizontes de um estudo comparado desta variedade africana relativamente ao português europeu e outras variedades do português. Este estudo tem como objectivo verificar até que ponto a variação presente na língua falada se reflecte na língua escrita e assim contribuir, dentro dos limites de uma dissertação de mestrado, mas com um foco bem definido e um corpus relevante, para uma melhor compreensão da colocação dos pronomes clíticos no Português de Angola (PA), que parece distanciar-se da norma padrão do Português Europeu (PE). O corpus analisado é constituído por obras de escritores angolanos de diferentes faixas etárias e procedência geográfica; assim como por textos jornalísticos produzidos por profissionais de informação que, em princípio, fazem uso da norma europeia. Analisam-se comparativamente os resultados sobre a colocação dos clíticos pronominais obtidos nas obras de três escritores conceituados da Literatura Angolana (Mayombe e A Sul. O Sombreiro, de Pepetela; A Última Ouvinte, de Gociante Patissa; Os Transparentes e Os da Minha Rua, de Ondjaki) e de dois jornais com uma abrangência nacional (Jornal de Angola e O País). A dissertação está organizada em seis capítulos. No capítulo introdutório, faz-se a apresentação do tema, definem-se os objectivos, as hipóteses e a metodologia, com uma pequena resenha histórica da presença do Português em Angola. Além disso, dá-se informação sobre os escritores e a amostra que constitui o corpus, e sobre os critérios de análise e classificação dos dados. No segundo capítulo, fazemos a revisão da literatura sobre a colocação dos clíticos no português angolano, centrando-nos em Gerards (2018), que se apresenta como o primeiro trabalho sistemático, mas sem olvidarmos Soma Adriano (2015) e outros autores com diferentes pontos de vista. No terceiro capítulo, comparamos os dados de Pepetela em Mayombe (1980) com os de A Sul.O Sombreiro (2011), demonstrando que Mayombe segue a norma do PE, não sendo, por isso, representativo para o estudo do PA. No quarto capítulo, mostram-se e comentam-se os resultados do estudo realizado a partir do corpus literário (excluindo Mayombe) e discutem-se os dados do corpus, na base das hipóteses formuladas na literatura e apresentadas no capítulo 2. Procuramos identificar possíveis mudanças em curso nos padrões de colocação dos pronomes clíticos no português angolano escrito que não sejam apenas o efeito da aquisição incompleta por falantes do português L2 e que possam, por isso, vir a configurar uma norma culta angolana (paralelamente ao que ocorreu no português brasileiro). No quinto capítulo fazemos uma breve comparação dos dados da escrita literária com os dados da escrita jornalística, simplesmente para confirmar a presença de traços característicos do Português Angolano. À guisa de conclusão, resumem-se as principais linhas do trabalho e fazem-se algumas sugestões para investigações futuras e para o ensino de Português em Angola.
|