Summary: | As enteropatias inflamatórias crónicas são um grupo de doenças que afetam de maneira crónica o trato digestivo. A etiologia da doença inflamatória intestinal é ainda desconhecida estando várias hipóteses a ser desenvolvidas, uma das quais envolve a microbiota intestinal. A microbiota forma um equilíbrio dinâmico e mantém uma relação simbiótica com o intestino. No passado, a única técnica disponível para obter informação sobre a microbiota era a técnica de cultura. Hoje várias técnicas estão a ser usadas, nomeadamente técnicas baseadas em rRNA de 16S. Foram descobertos cinco filos principais no cão: Firmicutes, Fusobacteria, Bacteroidetes e Proteobacteria, podendo a sua composição ser alterada por fatores como idade, dieta, raça e uso de antibióticos e levar ao desenvolvimento de uma disbiose. Foi demonstrado que na enteropatia inflamatória crónica há uma alteração da composição da microbiota e uma menor diversidade da mesma, com uma quantidade anormal de proteobacteria phylum, especialmente na família Enterobacteriaceae, bem como um aumento da população de Actinobacteria phylum. Uma diminuição do phylum Firmicutes, especificamente na ordem Clostridiales também foi destacada em cães com enteropatias inflamatórias crónicas. Contudo, muitas questões fundamentais permanecem sem resposta, as investigações sobre a microbiota intestinal são recentes, sendo um campo promissor e com grande potencial para utilização na prática clínica. Estratégias de tratamento baseadas na restauração da flora intestinal estão a ser cada vez mais apresentadas e embora ainda não estejam suficientemente desenvolvidas, oferecem perspectivas de investigação interessantes para o futuro. A sua utilização nas enteropatias inflamatórias crónicas pode ajudar a restaurar a flora intestinal, reduzindo a disbiose intestinal. No entanto, os resultados obtidos nos estudos são muitos variáveis, nomeadamente quanto à sua eficácia real e aos seus efeitos nocivos. O transplante de microbiota fecal é também um método que visa restaurar a microbiota fecal e que tem atraído cada vez mais interesse. Contudo, ainda não existe um consenso científico sobre a sua utilização, sendo necessários mais estudos para determinar os seus efeitos a longo prazo, incluindo a sua eficácia e a segurança. Apesar dos progressos feitos na última década, este campo está cheio de oportunidades e desafios a serem explorados. Um maior conhecimento da microbiota permitirá no futuro uma melhor compreensão das doenças intestinais.
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