Resumo: | Contexto: A violência doméstica é um problema universal, um problema de qualidade de vida e de saúde pública. Investigação extensa mostra uma relação entre trauma e dissociação em vítimas de violência doméstica. Essas vítimas são predominantemente mulheres. Objectivo: É nosso objectivo estudar o trauma e dissociação numa amostra de mulheres vítimas de violência doméstica. Sabedoras de que as vítimas de violência doméstica tendem a ter sido vítimas de situações traumáticas no passado, quisemos saber que tipos de trauma são comuns nesta população. Conhecida a importância do trauma no desenvolvimento da dissociação somatoforme e psicoforme, pretendemos também analisar se as vítimas de violência doméstica sofriam de dissociação psicoforme e/ou somatoforme. Quisemos ainda averiguar que tipos de trauma e de sintomas psicopatológicos se associavam à dissociação patológica em mulheres vítimas de violência doméstica. Finalmente, pretendemos saber quais as variáveis que predizem a dissociação, quer psicoforme, quer somatoforme. Método: Utilizámos o Brief Symptom Inventory (BSI) e o Inventário Depressivo de Beck (BDI) para avaliar os sintomas psicopatológicos e a depressão; aplicámos o Dissociative Experiences Scale (DES) para avaliar as experiências dissociativas e o Somatoform Dissociation Questionnaire (SDQ-20) para avaliar a dissociação somatoforme; para avaliar as experiências traumáticas usámos o Traumatic Experiencies Checklist (TEC); finalmente averiguámos os tipos de violência doméstica através de um inventário criado por nós (Inventário de Violência Doméstica, IVD) para averiguar os tipos de violência. A nossa amostra ficou constituída por mulheres vítimas de violência doméstica (N = 20). A média total de idade da nossa amostra foi de 29,75. Resultados: Estas mulheres revelam valores elevados de absorção ao nível das experiências dissociativas psicoformes. Mostram valores elevados no trauma por assédio e abuso sexual. Relativamente aos tipos de violência, estas mulheres foram mais vítimas de abuso físico directo. Nas experiências dissociativas psicoformes, o factor de distractibilidade é aquele que mais se correlaciona significativamente com a sintomatologia psicopatológica. Por sua vez, as experiências dissociativas somatoformes correlacionam-se com a gravidade sintomatológica geral e com alguns sintomas psicopatológicos, nomeadamente a ansiedade e a fobia. Verificamos que a relação entre o trauma e a dissociação (psicoforme e somatoforme) não é significativa, nem entre trauma e as outras variáveis psicopatológicas (BDI e BSI). A análise logística univariada para as categorias da dissociação psicoforme revela que nenhuma variável psicopatológica em estudo tem impacto. O mesmo se passa com as variáveis sociodemográficas (idade, estado civil e escolaridade): nenhuma prediz as categorias da DES. A regressão logística múltipla mostra que somente a gravidade sintomatológica é preditora da dissociação somatoforme. Conclusão: Os nossos resultados devem ser vistos a título de ensaio e como preliminares. Concluímos que, pela sua importância, este estudo deve ser replicado em amostras maiores. Os resultados indicam que no apoio à vítima de violência doméstica, se deve dirigir a terapia focada no presente para os sintomas de fobia e de ansiedade. Deve coadjuvar-se com uma terapia dirigida para os problemas passados de negligência emocional, para perceberem o seu envolvimento na reprodução de padrões relacionais passados.
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