Resumo: | A sintaxe do português, tal como outros domínios do seu sistema, mudou ao longo do tempo. No entanto, algumas variedades do português europeu (PE), sobretudo insulares, exibem traços sintáticos não-padrão mais conservadores, que resistiram à mudança ocorrida em variedades continentais, de que é exemplo o uso de ter em construções existenciais (onde eu trabalho tem muita gente de idade). O estudo que propomos, realizado no âmbito da Sociolinguística Variacionista (Weinreich, Labov e Herzog 1968, Labov 1972), visa analisar as ocorrências de ter e de haver neste tipo de construções em amostras do PE falado no Funchal (PEI-Funchal), selecionadas a partir do Corpus Concordância (Bazenga 2014). Os resultados apontam para valores significativos do uso da variante ter não-padrão – embora não tão expressivos quanto os observados em variedades do Português do Brasil (PB) (Mattos e Silva 2002a, 2002b, Avelar 2006a, 2006b) – como também para a influência de variáveis linguísticas (morfologia do verbo e traço semântico do N que integra o SN à sua direita) e sociais (género e nível de escolaridade dos falantes), em conformidade com o observado em trabalhos similares, realizados no âmbito das variedades do PB).
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