Resumo: | O término da caminhada académica e o início da vida profissional começa pela realização de um estágio, sendo que no meu estágio curricular em farmácia comunitária tive a oportunidade de colocar em prática conhecimentos assimilados anteriormente e ainda de aprender com a prática laboral do dia-a-dia. Tomei conhecimento da informação e documentação científica existente numa farmácia, para além dos medicamentos e dos diversos produtos de saúde. Acompanhei de perto e executei etapas integrantes do aprovisionamento, armazenamento e dispensa de medicamentos. Realizei as preparações de manipulados que foram pedidas enquanto me encontrava em estágio e também visualizei e contribuí para as actividades de contabilidade e gestão da farmácia. Deparei-me com práticas como a automedicação e o aconselhamento farmacêutico. Surgiram oportunidades de aprendizagem ao nível de produtos dietéticos, fitoterápicos e suplementos nutricionais, alimentação infantil, medicamentos de uso veterinário, dispositivos médicos e adicionalmente coloquei em prática diversas capacidades adquiridas nos skills aquando da prestação de outros cuidados de saúde que a farmácia oferece. Em virtude de todo este envolvimento nas actividades da farmácia, desenvolvi uma interacção com os utentes que foi bastante enriquecedora e me fez perceber o quão importante é o farmacêutico como especialista do medicamento e agente de saúde pública. Tive a oportunidade de lidar com as implicações reais da investigação que eu me encontrava a desenvolver, sobre os efeitos a longo prazo dos antidepressivos. Estabeleci contacto com vários doentes depressivos e apercebi-me que se confirmam os dados estatísticos que indicam que em cerca de 20% das receitas aviadas pelo farmacêutico, um antidepressivo faz parte das mesmas, sendo que na maior parte das receitas de doentes depressivos que aviei existia uma multiplicidade de medicação antidepressiva e complementar. Desta forma, entendi e participei no acompanhamento da doença depressiva e na avaliação da adesão à terapêutica. Tendo em conta o aumento do uso crónico de antidepressivos em Portugal e o surgimento de relatos de efeitos secundários notados pelos doentes, o objectivo do trabalho de investigação que desenvolvi foi avaliar o aparecimento desses efeitos, a sua incidência no curso da doença e correlacionar os mesmos com a duração do tratamento com antidepressivos. Foram recolhidos dados por aplicação de um inquérito aos doentes que realizaram a sua consulta de Psiquiatria no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar Cova da Beira nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2012. Utilizou-se o Microsoft Office Excel 2010® para o tratamento estatístico dos dados, tendo-se realizado estatística descritiva (frequências) e indutiva (odds ratio). Inquiriram-se 35 mulheres e 13 homens. Os doentes com mais de 65 anos foram os que mais surgiram na consulta. Os antidepressivos mais prescritos foram os inibidores selectivos da recaptação de serotonina (ISRS’s), seguidos dos antidepressivos atípicos, considerando a medicação cumulativa entre os diferentes grupos de antidepressivos. Em termos de medicação complementar à antidepressiva, os ansiolíticos foram os fármacos mais prescritos. Um importante número de doentes referiu cumprir a terapêutica. Os efeitos secundários mais mencionados foram sintomas residuais de depressão, ganho de peso, nervosismo e fadiga. Em termos gerais, os efeitos físicos acompanharam os efeitos psicológicos, sendo referidos na mesma medida. 62.5% dos doentes encontravam-se em tratamento há mais de 3 anos, tendo sido neste período de tratamento que se registaram mais efeitos secundários. No que diz respeito à frequência dos mesmos, a maioria dos doentes mencionou que os sentia “às vezes” ou “frequentemente”. Por outro lado, verificou-se que quanto mais longo era o tratamento com terapia antidepressiva, mais efeitos secundários surgiam. É necessário e de todo o interesse realizar mais estudos deste género em Portugal, dada a escassez de dados existente. A mais-valia de investigações desta índole reside na avaliação do perfil de consumo de antidepressivos e na evolução da sua tendência de uso para a cronicidade, com o consequente surgimento de efeitos secundários que agravam o curso da doença e afectam de forma negativa a qualidade de vida dos doentes.
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