Resumo: | [Excerto] Por todo o mundo, nos últimos meses, a máscara facial tem sido o principal signo público do combate à pandemia. Após as semanas de confinamento que esvaziaram as ruas - nuns países mais do que noutros, consoante a gravidade da vaga pandémica e as opções políticas tomadas -, na paisagem do regresso dos humanos às suas atividades sobressaem os rostos incompletos, semi-apagados pela máscara, que é tanto um dispositivo de saúde pública quanto de performatividade social. Ao mesmo tempo que na esfera da tecnociência se debatiam as virtualidades do uso da máscara na prevenção da transmissão e se estudavam e certificavam os materiais e modelos que podiam cumprir essa promessa, na esfera social estruturavam-se sentidos para o uso do novel adereço. Quer isto dizer que sobre a máscara se tecem significados e crenças que vão sendo partilhados e comunizados, mas também contestados e negociados. Em tempos pandémicos, a interpretação da máscara é tão relevante quanto a máscara em si, porque precisamente é das interpretações que surge a inteligibilidade que vai fazer decidir o seu uso ou a sua rejeição e, sobretudo, as micro-práticas do seu uso. [...]
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