Resumo: | Apesar das mudanças que vimos a constatar no percurso do papel do pai nas últimas décadas, as sociedades tendem a atribuir ao género feminino, o maior envolvimento na responsabilidade pelos filhos. A amamentação é uma dessas imputações, defendida pela OMS como prática alimentar exclusiva das crianças nos primeiros 6 meses de vida. Pretendemos saber quais os eventuais impactos desta prática para o pai, para a saúde e bem-estar do casal e para a relação conjugal. Assim, os objectivos deste trabalho são os de aceder às vivências dos casais que optam por este método alimentar. A nossa amostra constitui-se de forma não probabilística e por conveniência, por 15 casais de nacionalidade portuguesa e raça caucasiana, que amamentaram os seus filhos durante um período mínimo de três meses. Tratase de um estudo exploratório, descritivo e transversal; cujo método de recolha de dados foi a entrevista semi-estruturada individual (30 entrevistas), através da aplicação de um guião de questões construído para o efeito. A técnica de análise dos dados qualitativos foi a análise de conteúdo, tendo-se optado por realizar uma análise temática e frequencial. Os principais resultados indicam que a amamentação não carece de tomada de decisão, por ser uma primeira opção, tendo em conta as crenças sobre os benefícios para a criança. É vivida pelos casais entre um misto de encantamento e de vulnerabilidades, onde sobressai o cansaço (físico e psicológico), o espírito de sacrifício e a falta de disponibilidade para o parceiro conjugal, bem como os sentimentos de exclusão paterna (face à parceira e à criança). Os casais subvalorizam esse mal-estar, essencialmente por ser transitório e estarem convictos de que o mesmo não deriva da prática da amamentação, mas está intrínseco à transição para a parentalidade. A perda do pudor face à prática da amamentação em público pode ser vantajosa para a manutenção da vida social dos casais e para a minimização dos sentimentos de privação da liberdade individual. Os casais mostraram-se confusos e ambivalentes face aos benefícios da amamentação para a relação de casal, mas a maioria reconheceu que esta fortalece a união conjugal, embora perturbe o envolvimento sexual. No comportamento paterno, os participantes da amostra demonstraram interessar-se pela postura igualitária no que se refere ao género, porém subsistem algumas visões e comportamentos tradicionalistas. Dar continuidade à exploração do tema e alertar as futuras díades parentais, evidencia-se como fundamental para que lhes seja possibilitada a oportunidade de optarem de forma consciente e esclarecida, minimizando este potencial factor de risco para o desmame precoce.
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