Summary: | A Ria Formosa é uma lagoa costeira situada na costa sul de Portugal com elevada importância social e económica para a região que representa o maior produtor nacional de amêijoa Ruditapes decussatus (ca. 90%). Este sistema está sob diversas pressões antrópicas, incluindo descargas de águas residuais urbanas que comprometem a qualidade da água. Este estudo, estando integrado no projeto CONPRAR, visa avaliar o impacto da recente ETAR Faro-Olhão (antiga Faro Nascente) na qualidade da água, especialmente na proximidade de viveiros de bivalves, utilizando uma abordagem química e bacteriológica. As ETAR Faro Nascente e de Olhão foram desativadas em outubro e foi implementada no mesmo local de Faro Nascente a nova ETAR de Faro-Olhão que trata os afluentes das duas ETAR então desativadas e parte de S. Brás de Alportel aumentando o efluente diário da ETAR (~ 14 000 m3 /dia). Esta usa um novo tratamento terciário (NEREDA). A amostragem de água foi realizada mensalmente ao longo do gradiente espacial da ETAR (2000 m) para duas secções da área de estudo no canal de descarga da ETAR (Esteiro da Garganta). Os dados obtidos mostram uma melhoria da qualidade da água ao longo do gradiente de dispersão do efluente para as variáveis químicas e bacteriológicas. Foram avaliados três períodos, setembro-outubro 2018, antes da desativação das duas ETAR de Faro Nascente e Olhão Poente, novembro de 2018 - abril de 2019, 6 meses após a implementação da nova ETAR Faro-Olhão e maio de 2019. Observou-se que o período novembro de 2018 - abril de 2019, foi quando se registou o maior impacto da nova ETAR e quando ocorreu a maior variabilidade associada à não estabilização do tratamento da mesma, a qual foi atingida em maio de 2019. Espacialmente, pelo índice trófico TRIX a maior influência da descarga foi identificada até 750 m para ambas as seções da área de estudo, zona onde não ocorre cultivo de bivalves. A maré desempenhou um papel importante na melhoria da qualidade da água, por promover uma elevada renovação da água, particularmente em preia mar de maré viva. A situação de maré morta e em baixa-mar revelou-se a pior a nível de qualidade de água, devido ao maior tempo de residência e menor renovação de água. Conclui-se assim que face à elevada taxa de troca com o oceano adjacente o impacto da ETAR é diminuído quando comparado com outros sistemas onde o renovação e circulação são mais restritas.
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